O MacGuffin: setembro 2014

segunda-feira, setembro 22, 2014

Il stronzo

Miguel Esteves Cardoso sobre o livro de João Magueijo:
"Os jornalistas ingleses reagiram bem a um resumo do livro Bifes Mal Passados de João Magueijo (J.M). Ficaram levemente surpreendidos mas divertiram-se com a lata do homem. Pudera: não chegaram a ler a porcaria do livro. 
Só Rod Liddle no Spectator borrou a pintura ao dizer que o único prato que Portugal deu ao mundo foi o bacalhau que descreve como "nacos de bacalhau fresco congelado em molho de queijo servido com puré instantâneo". Fica convidado a vir comer uma posta de bacalhau com este seu leitor. 
Imagine-se o sarrabulho que não seria se um cientista inglês, empregado por uma universidade portuguesa durante 25 anos, escrevesse um livro em inglês dizendo que todas as portuguesas são rameiras deslavadas, que os portugueses são bêbados obesos e que a comida é de carregar pela boca. Pois é. 
O mal do livro é a falta de originalidade. Tudo o que ele diz sobre os ingleses e a Inglaterra já foi escrito, com maior violência e elegância, regularmente, repetitivamente, por jornalistas como Auberon Waugh (1934-2001), Richard Ingrams, Digby Anderson e Theodore Dalrymple, só para falar nos mais divertidos. 
O livro de J.M não tem sentido de humor. É uma birra boçal e entediante. Esforça-se para chocar mas, para chocar, é preciso prender a atenção. E toda a atenção já foi ocupada pela inanidade do que diz e pela falta de jeito para escrever. 
Magueijo nada aprendeu com os ingleses. Como conseguiu? É porque o gajo não lê. Só pode ser isso."
(no Público) 
 

sábado, setembro 06, 2014

Unidade imaginária

Devo ser o único tolinho à face da terra a achar - como sabem, o português gosta de «achar» e, mais ainda, de dar a conhecer os seus «achamentos», não vá o mundo sofrer dessa subtracção – devo ser o único, dizia eu, a achar moderadamente obscenas as aparições dos «agentes» culturais em jornadas de «apoio» ao Dr. António Costa, esse indesmentível «gajo porreiro» da democracia portuguesa.

(É também sabido que o português gosta muito de «apoiar». É uma coisa que lhe está no sangue: «apoiar». No âmbito em apreço, a tendência é de associação: «apoia-se» em congregação, não vá a solidão tecê-las.)

Não querendo pôr em causa o arraial, pergunto: que é feito do homo culturales bicho-do-mato, anti-sistema, revoltoso, para sempre entregue à pálida solidão criadora (e assim sucessivamente)? Finou-se. Faleceu. Bateu as botas. Agora é só alegria, confraternização e pancadinhas nas costas. O Sr. Botelho cineasta, por exemplo, que ainda recentemente arrecadou apoios de natureza a mais diversa – na forma e no sujeito, incluindo o «apoio» pecuniário da CML, presidida pelo Dr. Costa – não teve pejo em despejar um muito jeitoso panegírico sobre “o Costa e o Zé Sá Fernandes”. You scratch my back, I’ll scratch yours. O que prova que o pudor é qualidade em avançado estado de rarefacção.


O que nos salva nestes relapsos públicos laudatórios, é podermos observar o lado cómico-trágico do exercício. Por entre o tilintar do vermute e uns pastéis de ansiedade, a trupe da cóltura ainda não se deu conta de que não vai poder esperar muito do Dr. Costa, quando este ocupar o alopécio cargo. A conclusão é trágica: a aritmética não quer nada com a Cultura.

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