O MacGuffin: De bibe

segunda-feira, setembro 16, 2013

De bibe

Vasco Pulido Valente, Público 14/09/2013
Requalificação 
""Tu és parvo!" "Não, não sou: tu és parvo!" "Tu és mentiroso!" "Não, não sou: tu és mentiroso!" "Tu és saloio!" "Não, não sou: tu és saloio!" A campanha eleitoral tem levado esta conversa de criancinhas de oito anos, que a televisão e os jornais parecem tomar a sério, a Portugal inteiro. De certeza, que neste momento qualquer português já percebeu quem são as duas personagens que nos tentam ilustrar com o insulto mútuo e a repetição de frivolidades, que o país melancolicamente recebe, sem protesto: são António José Seguro e Pedro Passos Coelho. Mas, não é difícil imaginar por que razão o debate político desceu a este abismo de inanidade. É que Passos Coelho e o sr. Seguro não podem perorar sobre nada de substantivo e a zaragata que arranjaram, ao menos, sempre ajuda a passar o tempo. 
No cérebro do sr. Seguro, não existe o vestígio de uma ideia. E o PS não achou conveniente fabricar um programa, um horrífico trabalho que guarda para o Verão de 2014. Por isso, quando vai animar a festa (mais conhecida, no vocabulário da seita, por "campanha"), está reduzido a duas soluções: ou se indigna com a miséria da austeridade, ou promete desfazer tudo o que o Governo fez, coisa em que ninguém acredita e que, de resto, é patentemente absurda. A dívida continua com ou sem Passos Coelho e os credores não amolecem ao ver a carinha de Seguro, mesmo que ele ponha, como devia, um bibe. Seja como for, os sofrimentos de agora ninguém os "paga", sobretudo com promessas de um regresso mítico à prosperidade e ao dinheiro fácil do Portugal que morreu em 1910. 
Passos Coelho também fica em perigo cada vez que abre a boca. Anunciar cortes, despedimentos e o aumento do horário de trabalho para o funcionalismo público não é, como se calculará, a melhor maneira de convencer o eleitorado a votar na gente que lhe trouxe tantas benesses. Pior ainda, o crânio do primeiro-ministro anda, coitado, tão vazio como o de Seguro. Perdido na crise, é constantemente empurrado de um lado para o outro, nega e afirma, não manda de facto no Governo e trata com um inexplicável zelo as querelas do partido e da coligação. Nestas patéticas circunstâncias, o silêncio era a melhor política. Mas não para Passos, constantemente obrigado a falar. E ele fala, coitado, com o amadorismo e a irresponsabilidade a que se habituou na JSD. As vociferações contra Seguro acabam por ser o melhor refúgio, tanto mais porque Seguro amavelmente retribui. Este par é que precisava com urgência de "requalificação"."

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