O MacGuffin: abril 2011

sábado, abril 30, 2011

Coitadinho do crocodilo

Capoulas Santos, vice-presidente da comissão política do PS e caceteiro de serviço ao partido, considerou hoje, Sábado, ser "absolutamente inqualificável" a "forma caluniosa" e "grosseira" como Eduardo Catroga, responsável pelo programa eleitoral do PSD, se dirigiu ao Governo e ao primeiro-ministro.

Isto equivale ao caso do rufia encartado que, perante uma escolha mais acutilante de palavras por parte de uma pessoa que sempre pautou a sua conduta pela educação e sobriedade, acha ter moral para o admoestar na qualidade de santo. Shame on you, Sr. Capoulas Santos.

5 de Junho

Pegando no mote do João Miranda, e na qualidade de eleitor de direita:
  1. Já percebi que o país faliu;
  2. Já percebi as consequências da falência;
  3. Não quero manter o Estado Social tal como está, na mesma medida em que sei que não podemos «acabar» com ele;
  4. Sou a favor de medidas para ajudar os pobres, sobretudo as que envolvam o esforço dos próprios (embora não apenas as que envolvam o esforço dos próprios, porque sei que há pobres, sobretudo os mais idosos, sem capacidade própria para esforços);
  5. Acho que se deve mexer na escola pública, no SNS, na segurança social e no subsídio de desemprego, desde que a «mexida» não seja encimada nem pela ideologia do «o que é público é que é bom e santificado, e o subsídio de desemprego é um bem absoluto», nem pela ideologia do «o que é privado é que é bom e santificado, e o subsídio de desemprego só serve para dar cobertura a mandriões».
Não há, nestas como noutras eleições, candidatos ideais. A política é, sobretudo, um processo decisório que assenta substancialmente no possível, em detrimento do quimérico. Tenho, ou penso ter, as minhas convicções e sei de que lado estou (tal como o João Miranda).  Mas também sei que a minha escolha, nestas eleições, recairá sobre o exequível. Que não rima com «inglês técnico».

Quem se mete com o PS, leva

Eduardo Cintra Torres, Público (via Portugal dos Pequeninos):

«A TVI lá fez mais uma entrevista a Sócrates, ajeitando-se à agenda do líder do PS. Como se comprovou no final, a entrevista foi, para o país, totalmente inútil. Zero de conteúdo. Quaisquer que sejam as perguntas, ele repete à exaustão as mesmas cinco frases memorizadas. Hábil a intimidar entrevistadores, ignora-lhes as perguntas, debitando o menu decorado e queimando tempo.
Judite Sousa não colocou diversas perguntas importantes e não obteve respostas às que colocou. Resultado: um festival de propaganda pessoal, mais um em poucas semanas. Sócrates só falou de si mesmo — o seu tema preferido — ou repetiu as cinco frases combinadas lá na Central de Propaganda. E, ajudado pela entrevistadora, alimentou a agora habitual confusão total entre primeiro-ministro e secretário-geral do PS.
A estranha última pergunta de Sousa sobre a vida privada de Sócrates foi colocada ao secretário-geral do PS na sede do governo de Portugal. Sousa apresentou Sócrates como “divorciado” e “com dois filhos” e perguntou-lhe se “tenciona fazer campanha eleitoral com a família”. Recorde-se que nas presidenciais apareceram familiares de todos os candidatos nas campanhas e nenhum jornalista, nem Sousa, os interrogou sobre isso.
A pergunta permitiu a Sócrates fazer exactamente o que disse que não vai fazer: usar os filhos. Mencionou duas vezes o “amor aos meus filhos”. Disse também “sempre os procurei proteger”. Ora, na campanha de 2009, em entrevista à SIC, Sócrates fez “referências premeditadas” aos filhos (como lhes chamou então um dirigente da agência de comunicação LPM). Também a sua vida privada foi usada em ocasiões escolhidas a dedo ao longo dos anos. Mais de uma vez as revistas cor-de-rosa souberam com antecipação onde ele estaria em momentos “privados” com uma alegada namorada; e numa entrevista ao Diário de Notícias na campanha de 2009 ele falou da alegada namorada (i, 21.09.09).
Na acção mediática de Sócrates não há nada, mas rigorosamente nada, que surja ao acaso. As “respostas” em entrevistas são frases decoradas. Toda a sua agenda e a do Estado que comanda estão planeadas para obter ou evitar efeitos mediáticos. Por exemplo, a correcção para baixo do défice foi divulgada pelo INE no sábado de Páscoa, com o país político ausente. A gestão de danos é brilhante: a Central obliterou Teixeira dos Santos dos media quando este, a bem de Portugal, traiu Sócrates e falou da necessidade da ajuda externa.
A Central vai debitando diariamente pequenos “casos” para a imprensa: através de dirigentes e outras figuras do PS (as ordinarices de Lello não são “arreliadoras deficiências tecnológicas” mas declarações públicas calculadas, cabendo a Lello o papel de abandalhar os políticos em geral); ou através de “fontes”, ou nem isso, como nas campanhas negras na Internet. Essa acção permanente da Central, 24 horas por dia, desgasta os adversários, em especial o principal partido da oposição, sem a mínima preparação para enfrentar uma organização profissionalíssima, que hoje atingiu a dimensão de um embrião de polícia política de informações, agindo exclusivamente através dos media e Internet, directamente ou através de apaniguados ou ingénuos.
O desgaste dos adversários ainda está no princípio. Dado que Cavaco Silva e os ex-presidentes pediram uma campanha eleitoral esclarecedora, caberá à Central de Propaganda oculta e semi-secreta ao serviço do PS encher os media e a blogosfera de “casos”, invenções, mentiras, factóides descontextualizados, etc. Esta Central tem acesso a informações, por métodos quase científicos de busca, selecção e organização de informações, a que os jornalistas não têm ou não podem ter acesso, ou nem sonham que existem. A Central conhece o passado de todos quantos agem no espaço público e ousam desagradar ao PS-Governo. A Internet é usada para divulgar elementos “comprometedores” da sua vida. Fernando Nobre e família foram alvo desses ataques mal ele se candidatou pelo PSD. Nos EUA tem crescido igual tipo de desinformação, como a campanha negra por republicanos mais primários de “dúvidas” acerca da nacionalidade de Obama.
A brutalidade da desinformação e das campanhas negras atinge não só os adversários políticos, mas todos os que exerçam livremente a liberdade de expressão. Como o PS-Governo vive exclusivamente dos media, a Central visa em especial os comentadores e jornalistas que considere fazerem algo negativo para os seus interesses.
A jornalista Sofia Branco foi recentemente demitida de editora na agência LUSA por se ter recusado, com critérios editoriais, a pôr em linha uma “notícia” oriunda da Central de Propaganda. Recorde-se que o director de Informação da LUSA foi uma escolha pessoal de Sócrates e que o seu administrador principal é amigo pessoal de Sócrates. A demissão teve carácter de exemplo, pois visa recordar a todos os jornalistas, começando pelos da LUSA, que “quem se mete com o PS leva”.
O caso revela a Central em acção. Uma correspondente da LUSA recolheu uma declaração dum assessor do primeiro-ministro que este atribuiu a Sócrates. A editora da LUSA não quis divulgar declarações dum assessor como se fossem de Sócrates (dado que não eram de Sócrates!); disponibilizou-se para ouvi-las do próprio, mas o assessor negou a hipótese. A editora rejeitou a “notícia”. Acontece que a Central precisava que a “notícia” fosse vomitada para os media naquele dia; por isso, a chefia da LUSA soube logo do caso e colocou a “notícia” em linha; a editora foi liminarmente demitida, retaliação que já seria de dureza totalmente desajustada ao normal funcionamento de uma redacção se a editora tivesse procedido mal. No dia seguinte, Sócrates disse a tal frase que fora dita pelo assessor: é o habitual processo de inculcação pela repetição.
Sofia Branco foi demitida por ser jornalista. Se houve “quebra de confiança”, como a direcção socretista da LUSA invocou, não foi no profissionalismo da editora, mas sim quebra de confiança da Central de Propaganda numa jornalista que agiu como jornalista. “Hoje, 27 anos depois do 25 de Abril, faz-se jornalismo com medo”, disse Sofia Branco ao P2 (25.04).
A pressão infernal sobre os jornalistas deu resultados extraordinários nestes seis anos. Somada a campanhas negras e cumplicidades no seio dos media, permitiu a Sócrates ganhar em 2009 e está a permitir-lhe recuperar nas sondagens em 2011.
A estratégia da Central para esta campanha já está delineada. Um dos elementos tem passado despercebido: através de pessoas como Lello e de comentários anónimos produzidos pela Central e despejados na blogosfera e caixas de comentários, repete-se a ideia de que os políticos são todos iguais, todos corruptos, nem vale a pena ir votar. A Central sabe que a percentagem do PS pode subir se a abstenção crescer. O paradoxo de um partido fomentar subrepticiamente a abstenção explica-se: como os eleitores mais livres votariam mais facilmente na oposição, neutralizá-los diminui os votos nos outros e aumenta a proporção relativa do núcleo duro dos eleitores do PS.
Outro elemento que favorecerá essa estratégia será a habitual forma de as televisões cobrirem as campanhas na estrada. Apesar da crise no país, é provável que a cobertura televisiva se concentre, como habitualmente, nos almoços da “carne assada”, nas declarações da velhota na rua, do comerciante à porta, do militante de reduzida inteligência, no “isto está uma loucura” do jornalista empurrado por jornalistas, etc. Enfim, fait-divers sem conteúdo político e sem relação com o discurso dos responsáveis partidários.
Se as televisões juntarem às habituais reportagens da “carne assada” e da velha que grita na rua alguma cobertura aos “casos” emanados da Central, estará lançada a confusão que serve um único entre todos os partidos: o PS-Governo. Tudo o que não esclareça políticas, divirja para os “casos” do dia e para o diz-que-disse, em que a Central tem mestria absoluta, servirá para impedir um esclarecimento mínimo (desfavorável a quem governou) e para induzir descontentes a absterem-se. Se fizerem uma cobertura das campanhas como a de 2009, as televisões estarão a colaborar, não indirecta, mas directamente com a governação dos últimos anos e com a aplicação concreta, diária, da estratégia de desinformação e propaganda.»

Alto e pára o baile!

Nem só de autóctones vive a música pimba: dia 10 de Julho, no pavilhão Atlântico, Michael Bolton & Kenny G. Pedir mais é impossível.

Lição n.º 139: coisas básicas

No Expresso da Meia-Noite, este senhor esteve a explicar umas coisas (básicas) aos liberaizinhos de serviço à república e ao caineziano amigo do PS:

João Confraria

Um wishful thinking seguido de um ou dois comentários

1. Seria bom que os votos dos portugueses permitissem que, juntos, PSD e CDS formassem uma maioria absoluta no parlamento. Significaria o fim dessa sinistra figura política chamada José Sócrates, que enganou, enganou, enganou, enganou e continua a enganar (vide programa eleitoral do PS, uma peça inédita de amnésia e de falta de vergonha). E significaria uma sonora chapada nessa mesquinha, languenta e patética ideia dos «consensos».

2. O Henrique crítica a escola de comentário portuguesa. Estou com ele mas. Entendamo-nos, caro Henrique: a coisa dos «tiros nos pés» é, desgraçadamente, real. E sim, é mesmo verdade: em política, sobretudo na política e no país de hoje (que são os que temos, para já), a imagem, os sinais e a forma contam. É de uma tremenda ingenuidade pensar-se que, numa imberbe democracia de trinta e sete anos, e num país ainda iletrado (esqueçamos as estatísticas do sucesso escolar) e politicamente ignorante (capaz de «engolir» as mais diversas patranhas), o tacto e a prudência possam ser dispensados. O que tem faltado a Pedro Passos Coelho não é cinismo: é tacto político para perceber que país é este e que pessoas (eleitores) são estas. Ainda não é possível ganhar eleições em Portugal proclamando ideias «liberais», de clara emancipação dos cidadãos relativamente ao Estado, quando estas trazem agarradas propostas avulsas, pouco ou mal explicadas, que configuram aquilo a que poderíamos chamar, agora cinicamente, de «perda efectiva de direitos sociais» (um slogan que a esquerda gosta de usar e o português médio respeita) ou quando pura e simplesmente não têm contacto com a realidade. Não há massa crítica suficiente para perscrutar a bondade de medidas que são tratadas pela rama por uma simplista e simplória comunicação social, e apenas devidamente explicadas (quando o chegam a ser) em local restrito ou obscuro. A plateia não é constituída por quem escolheu assistir, por sua livre vontade, a um workshop da escola de Chicago. Por muito que nos custe aceitá-lo, caro Henrique, o português médio não está «maduro» para perceber que tem de mudar de vida – para «pior», acha ele - e continua piamente convencido de que este regabofe a que chamaram «democracia» - um sistema que, pelos vistos, fomenta desvarios e amplifica fraquezas humanas – precisa de mão firme e orientação paternal (boa parte da «boa» imagem de Sócrates ainda passa por aí). No fundo, Henrique, como eu escrevi há dois anos atrás, Portugal é um país com uma tradição liberal residual. O ADN dos portugueses tem um pendor esquerdista – como escreveu a Helena Matos, o PS constitui, ainda hoje, uma espécie de partido natural de poder – indutor de relações de desconfiança, para não dizer de rejeição, com quem proclama reduções no alcance do bendito e querido Estado Providência (que é pai e senhor, como sabes). É a vida.

3. Pretendo, ou defendo, o quê, então? Fingimento? Cinismo? Repito: tacto. Cabecinha. Massa cinzenta. Trabalho. E um tipo de firmeza e consistência que não rime nem com pusilanimidade, nem com guerrilha politica rasteira, própria de arrivistas (e Pedro Passos Coelho não é um arrivista). Aquilo que ainda aguardamos – o programa eleitoral do PSD – já deveria estar há muito incrustado na opinião pública. Pedro Passos Coelho deveria ter criado, em 2010, um governo sombra que não deixasse na paz dos anjos os ministros e as políticas (sobretudo a falta delas) do senhor engenheiro. Com caras de peso, críticas felinas, propostas objectivas e não titubeantes. Não foi isso que tivemos. Não é isso que temos. O terreno tem sido o ideal para os doutores do spin aproveitarem as fraquezas e amedrontarem as massas (as da Buitoni não são más).

quinta-feira, abril 28, 2011

A culpa não é da comunicação social

Antes de vos comunicar algo de espectacular sobre o assunto em epígrafe, que reputo de algum lustre para o país, deixem-me dizer o seguinte: a culpa de o PSD não descolar do PS nas intenções de voto, não é da comunicação social. É, acima de tudo o resto, da actual direcção do PSD.

A ideia de remover, como quem remove um tumor, o Eng. Sócrates da cadeira do poder é, digamos, reconfortante. Mas a vida conserva resistências. Em política, não basta coadjuvar a propulsão com o combustível do descontentamento. Mesmo que não sejamos donos de um cérebro que nos habilite a compor odes ou a resolver problemas matemáticos, facilmente detectamos a seguinte evidência: a performance política do PSD, no que toca ao poder de «mobilização» (palavra feia, eu sei), tem sido miserável. Não de um tipo de miséria meneziana ou santanista, vazia de conteúdo, mas de uma miséria saturada de inconsistência programática e ausência de gravitas.

Mês após mês, o PSD tem picado alegremente, uma a uma, as check boxes da checklist “O que fazer caso se pretenda perder eleições contra um primeiro-ministro que está no poder há seis anos e deixou o país de calças na mão”. No mínimo, primoroso. No máximo, trágico.

Aflige a complacência com que o PSD tem tratado o governo, confundindo guerrilha politiqueira (campo onde o PS é campeão e o Dr. Miguel Relvas um menino de coro), com objectividade e frontalidade. Aflige a forma amadora e preguiçosa como tem tentado desmontar o argumentário socialista (na essência mais que paupérrimo), dando a imagem de não ter ideias concretas, sólidas e amplamente pensadas (repare-se, por oposição, na dinâmica discreta e eficaz do CDS). Aflige a forma imprudente como cauciona pseudo-think tanks (o Movimento Mais Sociedade é um bom exemplo) e deixa à solta gente certamente honesta mas politicamente inepta (como Leite de Campos), que lançam para o ar autênticas bombas programáticas para consumo de uma opinião pública já em estado de pré-colapso nervoso e não propriamente habilitada a decompor a mensagem na sua intrinseca e inelutável bondade. Aflige a forma como Pedro Passos Coelho não congrega personalidades políticas de peso (não me refiro a barões e baronetes, mas a gente com créditos firmados na sociedade portuguesa) e insiste em fazer-se acompanhar por figuras menores, que só o prejudicam. Aflige a apetência para os tirinhos de pólvora no pé e para tiros de bazuca (Fernando Nobre) no corpo inteiro.

Dito isto, convém dissertar sobre um fenómeno que, não sendo inédito na democracia portuguesa, atinge por estes dias máximos históricos: o governo demissionário está literalmente a ser levado ao colo pela comunicação social.

A comunicação social portuguesa (perdoem-me a generalização), apoiada na máquina de propaganda em que se transformou a Lusa (aqui sem pedido de perdão), anda a praticar há muitos meses, e sem pudor ou vergonha, um indolente churnalism.

As recentes notícias sobre a «execução orçamental» foram disso um bom exemplo. Tudo é engolido sem que se questionem os números, as fontes e os critérios. Há uma semana atrás, o Público, como que respondendo a esta notícia do Jornal de Negócios (não fosse o senhor primeiro-ministro fica aborrecido), publicava o seguinte:
«O secretário de Estado do Orçamento, Emanuel dos Santos, classificou hoje os números da execução orçamental como positivos e rejeitou a ideia de que a redução do défice esteja a ser feita à custa de adiamento de despesas e de serviços em ruptura, como avançou hoje o Jornal de Negócios. Emanuel dos Santos garantiu aos jornalistas que, “se há serviços que reclamam essa situação, é porque não tomaram as medidas adequadas para cortar as despesas”. “Não podemos pedir cortes na despesa e deixar tudo na mesma”, afirmou, garantindo que há dinheiro para satisfazer todos os compromissos do Estado, incluindo os salários dos militares do Exército.»
O Diário de Notícias, também a semana passada, publicava esta:
«O Gabinete do primeiro-ministro nega que o Governo esteja de costas voltadas para Teixeira dos Santos. (…) Contrariando o que diz hoje o jornal "Expresso", o gabinete de Sócrates adiantou que o primeiro ministro e o ministro das Finanças "nos últimos quatro dias reuniram-se quatro vezes". Isto no âmbito das negociações com Troika que, recorde-se, mesmo com tolerância de ponte nesta quadra festiva tem mantido um ritmo de trabalho diário e sem paragens.»
O défice de 2010 foi revisto em alta, passando para 9,1%. O governo «garante» que se trata de uma mera alteração metodológica.

Em Portugal, o jornalismo resume-se, em boa parte, a isto. O secretário de Estado «garantiu» aos jornalistas; o Gabinete do primeiro-ministro «nega»; o primeiro-ministro «assegura». Eles mandam dizer, o jornalista engole e publica. Ponto. Publish ou perish?

Ontem, na TVI, para além do pavão que, lá fora, gritava sempre que o primeiro-ministro atingia níveis inauditos de demagogia, a pavoa-jornalista que entrevistava o pavão-político fez questão, por defeito profissional (muitos anos na RTP é o que dá), de estender uma passadeira vermelha ao candidato do PS. A forma como Judite de Sousa emudeceu nas questões chave e tentou, de forma pueril e inconsistente, dar ares de entrevistadora-rija nas questões da politiquice, prova bem a que ponto o nosso jornalismo baixou os braços e se rendeu à lenga-lenga da dita politiquice: «eu sou incomensuravelmente bom; eu fiz o meu melhor; a oposição é um nojo; se culpas houver, há que reparti-las por toda a gente, cá e lá fora.»

Duas ou três explicações podem ser adiantadas para o que se está a passar.

A primeira, digamos, «histórica», é a de que o jornalismo em Portugal foi, desde sempre, fraco no seu papel de escrutinador, ainda que pontuado por jornalistas (poucos) de boa cepa. Ou seja: o lastro é longo e indelével. Dou um exemplo. Há anos, ou décadas, que a esquerda dita «progressista» proclama o seu amor pelo «modelo nórdico». O «Estado Social» nórdico é o nirvana dos socialistas «modernos». A «excelência» dos serviços de saúde e do sistema de educação «nórdicos», são o sonho húmido da esquerda bem pensante, na mesma medida que a ideia de introduzir um sistema de «plafonamento» na Segurança Social para as pensões mais elevadas, é um pesadelo com direito a danos cerebrais. Em boa verdade, a ideia do «fantástico modelo nórdico» foi mais ou menos assimilada na generalidade da população que, digamos, ainda lê jornais. Pergunta-se: alguém na comunicação social portuguesa esteve ou está interessado em perceber, in loco, o que é e como funciona o «modelo nórdico»? Algum jornalista se lembrou de estudar o «modelo nórdico»? Em Portugal há um manto de desinformação consentida e de ignorância deliberada em relação ao exterior, que promove, há décadas, o embrutecimento atávico das mentalidades e a cristalização rançosa das consciências (daí, também, a nostalgia bacoca em torno do desgraçado do Zeca e dos «amanhãs que cantam»). Em muito boa medida, a classe jornalística portuguesa é simultaneamente agente e produto deste situacionismo.

A segunda, mais, digamos, «corporativa», é a de que a generalidade das redacções é afectada por um pendor ideológico, que as impede, por preguiça e complacência, de fazer o trabalhinho de casa quando o que está em causa é o modus operandi de entidades representativas de determinado quadrante político. Repare-se na diferença entre a histeria em torno da escolha de Fernando Nobre (apesar de se tratar de uma escolha caricata, não merecia o chinfrim) e a indulgente indiferença com que trataram a escolha de Ricardo Rodrigues.

A terceira, mais, digamos, «conspirativa», é a de que a máquina tentacular do Partido Socialista, liderada por um Secretário Geral especialista na propaganda e no manuseio hábil de instrumentos subtis de intimidação, é extremamente eficaz na forma como satura o éter de arrumadas explicaçõezinhas, pujantes simplismos encantatórios («eu fiz o meu melhor», «eu lutei até ao fim», «o PS defendeu o interesse nacional», «o PS é a favor do Estado Social», etc.) e malabarismos matemáticos (e metodológicos...), sem que alguém ouse questionar o porquê e mande aferir da fidedignidade.

Deixado literalmente «à solta» por uma comunicação social viciada em óxido nitroso, este governo - o primeiro-ministro, os ministros Pedro Silva Pereira, Augusto Santos Silva e Jorge Lacão e, last but not least, o Dr. Francisco Assis, elevado de forma insondável à categoria de grande intelectual e príncipe da política – transfigurou-se numa vertiginosa máquina de spin e de contra-informação, gerindo e controlando, minuto a minuto, o espaço informativo.

Sim, é verdade: isto não explica o posicionamento do PSD nas sondagens. Mas convém perceber o que se está a passar. Para memória futura.

sábado, abril 23, 2011

Up, up and away

Diz que é dos critérios e do perímetro (e aposto que a coisa não vai ficar por aqui)

Money spines paper lung kidney bingos organ fun





Coitados

Leio, na diagonal, a entrevista de Almerindo Marques à revista Sábado. Detenho-me na descrição que o gestor fez da sua passagem pela RTP: as coutadas e a oligarquia instaladas, o desapego ao trabalho, a resistência dos interesses cristalizados. Junto-lhe o recente caso da «tolerância de ponto». Acrescento-lhe algumas personagens: o primeiro-ministro, o bastonário da Ordem dos Advogados, o senhor da AICEP, o senhor da AMI que quer ser Presidente da AR com o beneplácito do senhor do PSD, a senhora constitucionalista candidata a deputada, o poeta que perdeu duas corridas presidênciais, o ex-primeiro-minitro por seis meses, os senadores ex-presidentes, os jovens que defendem os jovens precários, o senhor administrador da PT mais o seu (ex?) amigo comentador e ex-director de programas de várias têvês. Começo a ter pena dos senhores do FMI. Eles nem sonham com que povo se meteram.

Gostar de homens

Yeah, right

O “Manifesto 74/74”, que a Marta Rebelo fez o favor de publicar no Blogue de Esquerda, é muito vibrante. Sobretudo na estridente e, a espaços, comovente profusão de lugares comuns, ideias redondas e expressões estafadas que, em bom rigor, parecem não jogar bem com a frescura encefálica dos jovens (adultos) que o produziram. O manifesto está grávido de alertas contra o tenebroso «apetite privado», a transformação do país num «protectorado do FMI», o regresso aos «vínculos laborais típicos do século XIX”. E por aí fora. Em suma: uma putativa «ofensiva anti-Abril» está em curso e um grupo de «cidadãos e cidadãs» (PC forever), nascidos depois do 25 de Abril de 1974, «report for duty». A sério? Não, a brincar. A utilidade do manifesto é directamente proporcional à quantidade de ideias políticas alternativas apresentadas: zero. É a canga do costume, decorada com o lastro lexical da praxe (só faltou mesmo uma referência ao «patronato»), num estilo presunçoso tão típico de uma esquerda chique urbana que faz sempre o favor de se insinuar na praça pública com base no pressuposto de que a verdadeira, a genuína, a desprendida, a magnificente e generosa defesa das «pessoas», lhe pertence por decreto do Altíssimo. Dizem querer lutar contra «uma engrenagem de destruição de direitos e de erosão da esperança», sem por uma vez empregarem o vocábulo «dever». Sem por uma vez se atreveram a dizer, mesmo que genericamente, o que fariam para socorrer o país (se é que pensam que o país precisa de socorro). Virar as costas ao FMI? Sair do Euro? Ninguém faz a mais pálida ideia. No fundo, estivemos na presença de um exercício de retórica política, repleto de poesia: «se nos roubarem Abril, dar-vos-emos Maio!».

Meus caros: leiam mesmo o Tony Judt. Chapter Two, The World We Have Lost. Naquele livrinho em que «o mal fere a terrinha».

O Dr. Alfredo Barroso não é apenas, de vez em quando, um demagogo convicto

Às vezes, é apenas rasca. Exemplo: o Dr. Alfredo Barroso, envergando o seu habitual olhar de lanceta, cortante e agudo, com que fareja as manhas secretas dos outros, afirmou ontem, na SICN, que a direita não tem respeito pelo descanso dos trabalhadores e que, se o pudesse fazer, acabaria com as férias. Isto não merece, obviamente, qualquer comentário. É demasiado rasteiro. Mas convinha lembrar ao Dr. Alfredo Barroso o que esteve em causa, ontem: uma «tolerância de ponto». Não foi um feriado ou um dia de férias. Numa altura, repare-se, em que Portugal está à beira da bancarrota por, entre outras causas, apresentar há anos dos piores índices de produtividade da zona euro. Arrisquemos uma alegoria que talvez penetre o erudito cérebro do Dr. Alfredo Barroso. Um estudante, a dois dias de um exame de inglês técnico, e após sucessivos chumbos, telefona aflitíssimo a um explicador da disciplina. O explicador, perante o desassossego e a angústia do estudante, diz-lhe “ok, eu desmarco os compromissos de amanhã para o receber”. Perante isto, o estudante responde “sou capaz de só aparecer à tarde porque hoje à noite é aquela noite do mês em que vou para os copos com os amigos”.

É mais ou menos isto, Dr. Alfredo Barroso.

Não perceber o óbvio

A placenta do Eng. Sócrates (que ofensivo que sou), afirma que as críticas de Pedro Passos Coelho à tolerância de ponto são «oportunismo político» em tempo de campanha. Porquê? Por ser «tradicional, fosse qual fosse a cor política do Governo, inclusivamente em executivos liderados pelo PSD e em anos de recessão».

Chegámos a este ponto. É este o grau da política portuguesa, representada ao mais baixo nível por… senhores ministros.

É com estes políticos que temos que conviver? É. E não há nada que possamos fazer? Digam-me vocês, no dia 5 de Junho.

Vai por aí

Vai por aí um grande gozo com a escolha do «Telmo do Big Borther» para as listas do PS. Este é o tipo de gozo – arrogante e emproado – que se dispensava nesta altura do campeonato. Não só pelo emproamento e pela arrogância, mas pela impertinência e falta de oportunidade. É tempo de perceber que a brincadeira da politiquice acabou. Sim, já nos rimos muito. Recomenda-se, agora, um pouco de seriedade e sobriedade. Deixemos que os «outros» chafurdem na lama sozinhos.

quarta-feira, abril 20, 2011

You're losing your vitamin C

Ininteligível, diria o Eng.

Sometimes when I’m brushing my teeth, I’ll look at the mirror and I swear my reflection seems kind of disappointed. I realized a couple of years ago that not only am I not super-skilled at anything, I’m not even particularly good at being myself.

Charles Yu

segunda-feira, abril 18, 2011

"I've got a perfect body, cause my eyelashes catch my sweat"

sexta-feira, abril 15, 2011

Bom fim-de-semana

segunda-feira, abril 11, 2011

domingo, abril 10, 2011

XVII Congresso do Partido Socialista

No geral:

asinus asinum fricat



Sr. Eng. Sócrates:

You can fool some of the people all of the time, and all of the people some of the time, but you can not fool all of the people all of the time.

Abraham Lincoln

quinta-feira, abril 07, 2011

Ora bem: falemos de verdade

quarta-feira, abril 06, 2011

Sem emenda

A par do embevecimento de que fui acometido perante o prosélito e abrantino fervor pró-socratiano do jovem socialista Rui Estevão Alexandre, que coloca citações do Sr. Eng. sem mais delongas ou considerações (as palavras são de um absolutismo inatacável), a entrevista de segunda-feira do senhor primeiro-ministro de Portugal conduziu ao rubro a actividade dos meus neurotransmissores nas respectivas fendas sinápticas (nada de segundas interpretações, por favor), na procura de respostas a uma série de perguntas que não me saem da cabeça há mais de quarenta e oito horas: por que carga de água andamos a entrevistar uma pessoa que está visivelmente perturbada? Que forças sobrenaturais arranjaram os senhores entrevistadores para conter o ataque de riso que a história da carochinha contada pelo primeiro-ministro de Portugal induz em qualquer mente minimamente desperta? Como foi possível termos voltado a eleger este primeiro-ministro? Qual o futuro de Portugal nas mãos desta gente? Que níveis de insanidade argumentativa pode o fantasioso mundo do senhor primeiro-ministro ainda alcançar?

Desde a minha infância que ouvia o meu pai falar na «cassete do Partido Comunista». Com o tempo, travei conhecimento com a famosa «cassete do Partido Comunista». Meu Deus, o que foi a «cassete do Partido Comunista» quando comparada com a cassete do actual primeiro-ministro de Portugal? Nada. Se a «cassete do PC» era obtusa e rígida, a cassete do senhor primeiro-ministro de Portugal é uma bomba atómica contra a inteligência. Os tempos são históricos não só por causa da crise: estamos a assistir, a cada intervenção do senhor primeiro-ministro de Portugal, ao discurso mais insidioso, manhoso e estupidificante da democracia portuguesa. A história que o senhor primeiro-ministro nos está a contar é pura fantasia. É uma lenga-lenga nuclear saturada de uma imaginação pueril com uma radioactividade anestesiante. Contada com o ar mais sério e sofrido do mundo. O senhor primeiro-ministro quer-nos levar a viver num mundo que não existe, repleto de vilões e de apenas um homem bom e corajoso: ele.

A coisa pode e deve ser colocada nos seguintes termos: se Portugal não se livrar desta personagem no dia 5 de Junho, não terá emenda.

segunda-feira, abril 04, 2011

Tune in

A «playlist de…» é um programa da TSF (dias úteis, entre as 13h e as 14h), no qual é convidada uma personalidade pública para escolher «a música que passa». Esta semana, as escolhas estão a cargo de Pedro Magalhães (politólogo e homem da estatística). Se a minha admiração pelo Pedro era já considerável, passou agora a ser, ao fim de dez minutos de programa, absoluta. O facto de ter escolhido, para abrir, os Sly and The Family Stone, e de, logo a seguir, ter dedicado uma música de Eric B «old school» Rakim ao grande Ricardo Saló (invocando o saudoso programa Noites de Luar, com Aníbal Cabrita), já nos diz muito sobre as referências e a educação musical do Pedro. A não perder, ao longo desta semana.

sábado, abril 02, 2011

À laia de conselho

Dr. Pedro Passos Coelho: poderia, ao menos, sossegar (já não peço calar, que é rude) o Dr. Miguel Relvas e o Dr. Marco António Costa? Fazer com que apareçam menos, por exemplo. Há tanta gente menos indigesta e menos nervosa no PSD. Veja bem: as últimas coisas de que precisamos, nesta altura del campeonato, são voluntarismos exagerados, egos desmesurados e aquela atitude típica de quem andou em garraiadas circa 1983. Para isso já nos bastam os Lacões e o pândego-mor Emídio. Obrigadinho.



sexta-feira, abril 01, 2011

Socrates made me do it

Estou seriamente a pensar votar neste rapaz:


Como foi possível chegar aqui? Não sei. A verdade é que cheguei. Ao contrário do maradona, eu não desejo mal a Pedro Passos Coelho. Desejo mal a José Sócrates. A Pedro Passos Coelho desejo apenas chatices - coisa que ele vai ter repetidas vezes nos próximos anos.

Vou, por isso, engolir este sapo, que os ácidos do meu estômago tratarão de desmembrar e dissolver:


Incomensuravelmente menos indigesto que este, carregado que está de toxicidade, necroses e sabor a ranço:




How low can we get?


E agora, para desanuviar, uma musiquinha:

Um país à deriva

António Nogueira Leite, hoje, no Correio da Manhã:

Vergonha

O país político definitivamente enlouqueceu. Parece que ninguém é culpado de nada. A Dívida Pública directa que era de 100 mil milhões em 2006 passou para 150 mil milhões em 2010, isto é, aumentou 50%.

O sector público administrativo (SPA) acumulou entre 2001 e 2005 défices de 26 mil milhões de euros, mas com o actual ministro das Finanças já acumulou 41 mil milhões de euros, ou seja, mais 57%. A despesa pública do SPA, que era em 2003 de 60 mil milhões de euros, já atingiu mais de 82 mil milhões de euros, ou seja, registou um aumento de 37%. O grande aumento nas prestações sociais – de 20 para 38 mil milhões – não resulta dos aumentos dos abonos às famílias pobres e numerosas ou das pensões mínimas.

Ou seja, criámos um estado insustentável num país que não cresce e que mantém enormes níveis de desigualdade. Eu, que tenho a sorte de ter rendimentos para pagar cada vez mais impostos, pergunto para onde vai esse dinheiro. E como eu, muitos outros cidadãos que cumprem e não têm a satisfação de ver esse cumprimento resultar em mais justiça. Só no aumento do malfadado pote!

Enquanto isto, o principal responsável pelo caos tem a ousadia de dizer que anda a defender Portugal e outros apenas sonham em exaurir o que resta do nosso pote colectivo. Uma vergonha!

Dia 1 de Abril

Dia de São Pinto de Sousa.


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