O MacGuffin: novembro 2010

sábado, novembro 27, 2010

Há quatro anos

Há quatro anos (a 25 de Novembro, data mítica) nascia o 31 da Armada. Hoje sabemos que na história da blogosfera lusa, podem ser identificadas duas eras: a31 e d31.

Parabéns ao 31!
(que é também a minha casa, apesar de me andar a baldar para a escrita... sorry Rodrigo...)

Vamos lá pôr o Zeca a render que a malta bem que se esforça mas não sai nada

Depois desse grande projecto, agremiador de grandes talentos, até então injustamente entregues ao basfond musical luso, chamado Amália Hoje, o Amanhã (que canta) chega agora com um novíssimo projecto, novamente agremiador do mais puro génio, que só por má-fé se pode insinuar que tresanda a Ontem. Atrevem-se a duvidar, caros leitores? Para que não haja a mais leve hesitação, passo a elencar as cabeças (e um par de dentes ralos, note-se) que humilde e desinteressadamente «recordam» e «reinventam» o Zeca: o Olavo (Bilac), o Nuno (Guerreiro), o Tozé (Santos) e o Vitor (Silva). Eu espero que isto não pare por aqui, e desde já proponho os próximos «projectos»:

Fausto Pá!

Vitorino Já!

Janita Sim!

Zé Mário Força!

Heróis do Mar Nunca!, Que Eram Fascistas e Isso Não Vende!

Vão por mim: vai ser do caraças.

(publicado originalmente aqui)


Da liberdade

O Nuno Ramos de Almeida (presença regular no Combate de Blogs) e outros grandes defensores do racionalismo e moralismo político, para delírio das massas eternamente gratas, deram a conhecer ao mundo, ou melhor, voltaram a expor de forma cintilante como é que as coisas funcionam ou devem funcionar: mais do que um direito, a greve é um dever. Quem não o exerce – o dever – é mau pai de família e, pior ainda, é conivente com (apontem por favor): as políticas do governo, o capitalismo (que é sempre uma coisa muito má), o interesse dos ricos (basicamente os grandes empresários e, como diria o Dr. Marinho Pinto, os grandes escritórios de advocacia de Lisboa), o Sr. Barroso, a América (do Norte) e a doida da Merkel. Ao Nuno Ramos de Almeida não lhe ocorre coisa diversa porque a cabeça do Nuno Ramos de Almeida está muito bem arrumadinha e organizada. Nada lhe escapa, nada faz estremecer as veneráveis certezas que o habitam, nada belisca o mundo que Nuno Ramos de Almeida tão bem observa e disseca. Não querendo pôr em causa este quadro de perfeição analítica e o entusiasmo, ora cândido, ora ardente, que o rodeia, atrevo-me a observar o mundo de forma um pouquinho diferente.

Estão as pessoas descontentes com o país? Estão. Sentem-se enganadas por um primeiro-ministro delirante? A maior parte sim (os restantes, salvo o pequeno grupo dos mentalmente empedernidos ou financeiramente engajados, começam agora a despertar para a monumental burla política levada a cabo por um primeiro-ministro que, das duas uma: ou se encontrava fora do mundo ou tentava ardilosamente varrer o lixo para debaixo do tapete). Têm, por tudo isto, direito a expressar o seu descontentamento? Têm. A greve, como direito, é uma forma de expressar esse descontentamento? É óbvio que sim. Pode um cidadão optar por não fazer greve, sem que isso signifique estar ao lado do governo ou ser-se conivente com os erros e falcatruas cometidas? O Nuno Ramos de Almeida acha que não. Eu acho que sim. Por uma razão simples e, digamos, comezinha: liberdade. Cada um é livre de se manifestar à sua maneira. Cada um é livre de achar que a greve é inconsequente e, dadas as dificuldades do país, contraproducente. Cada um é livre de achar que perder um dia de ordenado, agrava uma situação pessoal já apertada. Cada um é livre de achar que fazer greve prejudica a empresa de que faz parte - a qual, por força da conjuntura, já enfrenta dificuldades suficientes. E que achar e pensar tudo isto, de forma livre e consciente, não é sinónimo de iniquidade moral ou distúrbio cívico.

O que não deixa de ser sempre curioso, é a forma como esta coisa da Liberdade continua, de quando em vez, de forma incompreensível e paradoxal, a não entrar na cabeça de quem não raras vezes dá ares de ser o dono da clarividência e o defensor oficioso dos oprimidos – como se o «oprimido» fosse um basbaque a precisar da orientação augusta dos sages da opinião. O que não é de admirar: a História está pejada de gente que, julgando-se a paladina da moral e das mais nobres ideias, mandou à fava valores «menores». Só atrapalhavam.

(publicado originalmente aqui)



sábado, novembro 13, 2010

It's only life



You could lock your doors
Close all your windows and
Hide away

quinta-feira, novembro 11, 2010

segunda-feira, novembro 08, 2010

terça-feira, novembro 02, 2010

Loop

Notícia Público:
O PS garantiu que as medidas para concretizar o acordo com o PSD sobre o Orçamento do Estado vão cingir-se à despesa. A garantia é do porta-voz e líder parlamentar socialista, Francisco Assis, numa conferência de imprensa em que se congratulou com o entendimento alcançado.

Para Francisco Assis, o acordo alcançado "vai no sentido da redução da despesa. Isto é, os 500 milhões de euros que resultam de uma diminuição da receita fiscal em função da introdução das alterações agora acordadas será resolvido através de uma redução na despesa pública".

O PS reagiu assim ao acordo, pouco depois de a direcção do PSD ter anunciado a sua abstenção da votação do Orçamento e a expectativa de ouvir, "em sede de especialidade, apresentar as eventuais acções e medidas adicionais de redução de despesa que se revelem indispensáveis para a concretização do entendimento".
Alguém acredita nisto? Se o efeito deste acordo (os tais 500 milhões que Francisco Assis e Teixeira dos Santos têm feito questão de evidenciar) não é o mais perfeito álibi para aumentar impostos, nenhum outro será. As exigências do PSD (em vez de apresentar um modelo global, integrado e alternativo de orçamento, que melindrasse de uma vez por todas algumas áreas sagradas da governação e servisse simultaneamente o objectivo de estimulo à economia, o PSD optou por cinco ou seis exigências pontuais) e o tipo de acordo alcançado, propiciam um mais que provável aumento de impostos em 2011. Tanto mais que, com a perspectiva da queda do governo em 2011 (e de novas eleições), o animal político que nos governa não irá deixar os seus atributos por mãos alheias. Ao contrário do que afirma Francisco Assis, o acordo não vai no sentido da redução da despesa coisíssima nenhuma. Em boa verdade, nada de concreto ficou acordado no lado da despesa. No final do primeiro trimestre de 2011, o governo prepara-se para invocar os efeitos (nefastos) do acordo para justificar um aumento de impostos (e com isso financiar o descontrolo de uma despesa que não se pretende controlar em ano de eleições). Em suma: mais do mesmo.

segunda-feira, novembro 01, 2010

Ao cuidado do Sr. José Sócrates, mas também do Sr. Passos Coelho

"No economic recovery will ever occur until governments bury, once and for all, the Keynesian concept of aggregate-demand management and instead take measures to revive incentives to rebuild risk-capital financing by mobilizing the country’s entrepreneurial talent.

(…)

Greece is the industrial world’s first casualty, with Portugal, Italy, Spain, and perhaps even France not far behind. Some American political jurisdictions, notably California, are suffering similar crises. These casualty countries are all democracies. But political parties are slow to correct the accumulated mistakes of decades. Capital markets are forced to correct mistakes much faster; the markets are signalling that unless governments move swiftly, they risk default. Rather than learn their lessons and abandon Keynes, European governments have responded by throwing him into reverse, through fiscal austerity that suppresses growth and increases the real burden of public debt. What their countries need is to let people leverage their entrepreneurial talents and build up assets.
Unless this is done, the world economy will remain locked into a stagnation punctuated by periodic crises. Lasting prosperity stems from innovation and entrepreneurship. It is easy to talk about this, but hard to bring it to life.
To match talent and capital, and sort out winning ideas from the failures, societies must build their risk capital and sustain the entire maze of institutions that maintain accountability among investors, entrepreneurs, and intermediaries. Accountability requires the continuous reevaluation of entrepreneurial experiments and the ability to intervene to shut them down through bankruptcy to prevent costly errors form compounding.

(…)

The choice is not between stimulus through government spending and austerity but between stagnation and innovation. Government policy must foster independent sources of risk capital. In the 1970s, or the 1930s, or the 1980s, increasing government debt helped to do this, but it is very hard to argue that this is the case in 2010. The policy lever that can best influence risk-taking today is fiscal. Governments should reduce taxes on capital income and eliminate taxes on capital gains entirely.

Spending cuts must be second in the sequence, after tax reduction have generated more risk capital and employment. Cutting spending first will cause a sharp drop in employment, with no collateral benefits through additional deployment of risk capital.

The worst course of action would be for the federal government to arrogate to itself the role of the private institutions slowly established by the efforts of tens of thousands of talented individuals. Restoring conditions for long-lasting prosperity requires risk investments that create assets, which in turn help create seed capital for new entrepreneurs, in a virtuous cycle. Government job creation produces at best temporary incomes, diverting capital from creating assets.”

The Keynes Conundrum, por Reuven Brenner e David P. Goldman. Na First Things de Outubro.

Manuel Joseph Heller Alegre


Manuel Alegre é um homem encurralado. Ao ter aceite publica e assertivamente o apoio do PS, chegando a colar-se em mais do que uma ocasião a decisões do governo e ao próprio primeiro-ministro, dificilmente poderá, daqui para a frente, enveredar por uma via divergente ou emancipadora, relativamente a este desgraçado governo e a este desacreditado PS. Até porque não pode correr o risco de perder mais eleitores socialistas, como demonstra a mais recente sondagem estar já a acontecer.

Ao não o fazer, também por questões de ordem prática e/ou logística, Manuel Alegre perderá a aura de candidato apartidário ou suprapartidário, que tantas vezes tem pretendido adoptar. Se o tentar fazer, correrá o risco de perder mais uma fatia do eleitorado do PS (a fatia que, embora desconfiada, ainda o apoia por apego ao partido) e de fazer a figura de quem, à última da hora, por via do desespero, deita mão do mais pueril dos taticismos.

O nó parece górdio. Neste caso, nem a poesia o salvará.

Em pleno voo, ainda ajustou o diafragma e o obturador

No Radio Days, de Woody Allen, há uma cena que coloca no ar um excerto do programa de Bill Kern, Sports Legends, dedicado ao jogador de baseball Kirby Kyle. Kirby Kyle era uma jovem promessa do baseball americano, nascido no seio de uma família pobre do Tennessee. “A kid with a great future”, anunciava aos microfones Bill Kern. Um dia, Kirby Kyle foi à caça. Durante uma perseguição a um coelho, tropeçou e a espingarda disparou acidentalmente, atingindo-o numa perna. Em resultado do acidente, foi-lhe amputada a perna direita. Disseram-lhe que nunca mais voltaria aos estádios. Kirby desistiu? Nem pensar: passado pouco tempo, e com uma perna de pau, Kirby Kyle voltou em grande ao campeonato de baseball. Na época seguinte, outro acidente custou-lhe um braço. Felizmente que não o que usava para lançar a bola. Mais uma vez, Kirby Kyle voltou em força ao campeonato, recusando desistir. “Because he had a heart”. No inverno seguinte, desta vez num dia de caça aos patos, uma avaria na espingarda cegou Kirby Kyle. Mais uma vez, disseram que nunca mais voltaria aos estádios. Mas voltou. “Because he had a heart”, relembrou Bill Kern. No ano seguinte, Kirby Kyle morreu, atropelado por um camião. “The following season he won sixteen games in the big league in the sky”, concluiu Bill Kern.

Vem isto a propósito do trágico acidente de que foi vitima o fotógrafo português do NYT, João Silva (contagem de portugueses=1). No meio do infortúnio, pode haver lugar ao cómico ou ao burlesco, dependendo, muitas das vezes, da forma (aparvalhada) como se dá a notícia. No Diário de Notícias, em parangonas, podia ler-se:

“João Silva pisou mina mas continuou a fotografar”.

É caso para acrescentar: tal como Kirby Kyle, o João nunca desistiu. “He had a heart”.

PS: votos de rápida recuperação para o João Silva.
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