O MacGuffin: Têm medo que o Dr Daniel Proença de Carvalho venha a tratar do assunto, é?

quarta-feira, abril 15, 2009

Têm medo que o Dr Daniel Proença de Carvalho venha a tratar do assunto, é?

Notícia Público, a propósito da suposta «apropriação» de uma chanson dos Xutos & Pontapés para «hino» de um país em revolta:

“Quem conhecer a discografia dos Xutos & Pontapés sabe que o cariz de intervenção e alerta social marcaram sempre presença nas letras das músicas. Mas os membros desta banda nunca quiseram vestir a roupagem de “líderes de uma revolução política”, nem apoiam, enquanto colectivo, qualquer partido político, assegura Zé Pedro, guitarrista dos Xutos. Por isso, é com alguma surpresa que o grupo assiste à euforia em torno da canção “Sem eira nem beira”, que integra o novíssimo álbum Xutos & Pontapés, disco de originais que foi lançado na passada semana.

Interpretar esta faixa, cantada pelo baterista Kalu, como um hino contra as políticas do Governo socialista é "deturpar" a intenção do grupo. "Não há aqui alvos a abater", diz, em resposta ao facto de o refrão começar com a frase Senhor engenheiro, dê-me um pouco de atenção. "Não queremos fazer um ataque político a ninguém. A letra exprime mais um grito de revolta. E é um alerta para o estado da Justiça e para uma classe política em geral que, volta e meia, toma atitudes que deixam os cidadãos desamparados", justifica.

O grupo não poderia prever o impacto desta faixa do disco que celebra os 30 anos de carreira do colectivo e que será apresentado pela primeira vez ao vivo a 24 de Abril, no Seixal. Neste contexto, Zé Pedro insiste que qualquer aproveitamento da música para criticar e contestar o Governo não receberá a "solidariedade" dos Xutos.

Zé Pedro, que, diz, até "simpatiza" com o primeiro-ministro José Sócrates, aponta ainda que quando Tim, o vocalista, escreveu o texto para a música de Kalu, tiveram de optar entre "senhor engenheiro" e "senhor doutor": "Optámos por engenheiro por causa do actual primeiro-ministro, mas nunca quisemos fazer um ataque político directo."

Tim escreveu a letra de Sem eira nem beira já em estúdio, conta Zé Pedro, e "em cima da hora". "Falámos que seria interessante trabalhar uma temática de intervenção e com alguma rebeldia, porque a música é do Kalu e seria ele a cantá-la", afirma.”

Vamos lá ver se percebi.

Uma banda de rock and roll (?), herdeira, segundo os membros da mesma, do punk de estirpe mais combatente e menos anarquista – os Clash, por exemplo, são quase sempre referenciados como fonte inspiradora dos Xutos (petit nom) - produziu aquilo que parece ser um libelo (ainda que soft) ou, nas palavras do Sr. José Pedro, membro dos Xutos, «um grito de revolta» contra o estado em que se encontra o país. A oeste, nada de novo.

O refrão da música refere-se, concretamente, ao «Senhor Engenheiro», uma alusão clara ao chefe do governo do país, confirmada pelo Sr. José Pedro quando refere que se «optou por engenheiro por causa do actual primeiro-ministro». A oeste, nada de novo.

A música, entretanto, começou a dar nas vistas. A TVI, por exemplo, aproveitou-a para fazer uma espécie de clip com imagens do governo. A oeste, novamente, nada de novo.

Em face do protagonismo crescente da música, o que fazem os membros da banda?
  1. Pedem, encarecidamente, que o povo, em geral, e o visado, em particular (refiro-me ao «Senhor Engenheiro») não julguem os Xutos como «líderes de uma revolução política»;
  2. Afirmam não haver «alvos a abater»;
  3. Juram que não houve um ataque político a quem quer que seja;
  4. O Sr. José Pedro – porta-voz da banda - declara que «até simpatiza» com o Sr. Primeiro-ministro;
  5. Informam que optaram pelo termo «senhor engenheiro» em detrimento do «senhor doutor» por causa do «actual primeiro-ministro» mas, atenção!, «não houve a mínima intenção de fazer um ataque político»;
  6. O Sr. José Pedro confessa que, bem vistas as coisas, a música foi feita «em cima da hora» e que, em bom rigor, «é obra do Kalu» (género «esse grande maluco»), que até a canta (género «a malta é bem capaz de lavar as mãos do assunto»).
É isto, não é? Agora, se me dão licença, vou ali vomitar. Ao som dos Clash.

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