O MacGuffin: <strike>Welfare</strike> Farewell Socialism

quarta-feira, maio 18, 2005

Welfare Farewell Socialism

Escrevia Vasco Pulido Valente há dias:

“O sr. Presidente da República, o Governo e a oposição (da esquerda e da direita) quase só falam do aborto e das maquiavélicas manobras a que o referendo ao aborto deu origem. O sr. Presidente da República também se preocupa ruidosamente com a "sinistralidade rodoviária". O PSD pensa dia e noite no sr. Isaltino, na sra. Damasceno e no major Loureiro. O primeiro-ministro anuncia no Parlamento "pequenas medidas", com grande aprovação dos comentadores de serviço. Parece que Portugal está próspero e tranquilo, sem um único problema sério, e que há tempo para discutir uma ou outra imperfeição menor da nossa exemplar sociedade. Quando se compara o torpor de hoje ao frenesim de Fevereiro, não se acredita. Sócrates conseguiu de facto anestesiar o país. Nem o aviso de Constâncio sobre a necessidade absoluta de apertar o cinto acordou ninguém.
Medina Carreira bem pode dizer que a "economia possível" não permite o "Estado impossível" que por aí existe e por aí se prometeu. Os portugueses não suportam excessos de realidade e o PS tem uma filosofia diferente, que o dr. Manuel Pinho, da Economia, já explicou: este "socialismo" não gosta de ideias, não quer ideias, nem vai deixar que uma única ideia o atrapalhe. Detesta principalmente "teorias gerais": "sobre a burocracia", sobre "reformas" (calculem) "institucionais", até sobre o próprio "choque tecnológico", que tanto propalou. Este "socialismo" mostra com orgulho a sua cabeça vazia e declara bem alto que é exclusivamente "adepto de actos". Por outras palavras, que é um socialismo de "remendos", que é uma nova e maravilhosa espécie: o "socialismo remendão", sapateiro remendão da Pátria. Já tapou uns buraquinhos na justiça, vai tapar com certeza muito mais buraquinhos, quando lhe parecer razoável e barato. As "pequenas medidas" são isso: a estratégia das meias-solas, que, garante Pinho, o Governo tenciona aplicar por convicção e regra.
Não ocorre a Pinho (nem, suponho, ao Governo) que no seu ódio às "teorias gerais", propõe igualmente uma teoria geral (a rejeição de qualquer teoria), embora no caso crassa e deletéria. Um médico não trata sintomas, trata a doença, como o dr. Pinho talvez saiba. O PS, tomando "pequenas medidas", sem um diagnóstico da situação portuguesa e um programa claro para a corrigir, não resolve nada e, a prazo, complica tudo. Para voltar à metáfora do sapateiro, deita meias-solas numas botas que devia deitar fora.”


O Eng. Sócrates está neste preciso momento a braços com um problema, dentro de outro problema: a situação em que o país se encontra obriga-o a meter na gaveta os resquícios de um socialismo que a esquerda (dentro e fora do PS) ainda acalentava ver posto em prática: o do Estado empreendedor, assistente e «humano», timoneiro do progresso e da solidariedadezeca. Dito de outra forma, o Eng. Sócrates vai ser obrigado a viver obcecado por essa coisa chata que dá pelo nome de «défice». Dito, ainda, de outra forma, o Eng. Sócrates vai ter de engolir as críticas propaladas veementemente contra a retórica da «tanga» do Dr. Barroso, sendo obrigado, ele próprio, a reinventar a metáfora da lingerie (desde já lhe sugiro o termo «fio-dental») e a reviver o dilema vivido pelo agora presidente da Comissão Europeia (é claro que Sócrates fará questão, tal como Barroso, de culpar o governo anterior). Saudades do futuro é coisa que o Eng. Sócrates vai passar a sentir nos próximos anos. Isso e os milhões de olhares dos que, à esquerda, nunca lhe irão perdoar tamanha «traição».

Como Vasco Pulido Valente sugere, desta vez não vamos lá com paliativos e medidas ad hoc. A máscara caiu e o país ou vai para obras (profundas, estruturais, sérias) ou fecha em definitivo as portas. Com as suas declarações, o Dr. Constâncio já preparou o terreno para o que aí se avizinha. Um favor inestimável que o Eng. Sócrates vai ter de aproveitar. Se, é claro, se desenlear da fixação pelo aumento da Receita (via impostos), para se concentrar na efectiva e duradoura descida da Despesa, a Monstra.

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