O MacGuffin: Expresso, 2 Abril 2005, página 12

segunda-feira, abril 04, 2005

Expresso, 2 Abril 2005, página 12

1. Daniel Oliveira (o do Barnabé) dá à luz prosa notável, a páginas doze do Expresso deste fim-de-semana. Notável no sentido em que ilustra, na perfeição, de que forma pensa um homem de extrema-esquerda. Está lá tudo: a insinuação, o léxico, a má-fé. O título é, logo à partida, ilustrativo: “A fauna do Atlântico”. O, ou, neste caso, a «Atlântico» é a nova e já aqui publicitada revista mensal distribuída pelo Público, cuja direcção está a cargo de Helena Matos. Primeiro sinal característico: a bestialização dos outros. A «fauna», ou seja, o «grupúsculo» de «animais». Segundo sinal: agregar, transfigurando, um conjunto de colunistas unipessoais – senhores, certamente, de sensibilidades diferentes - num colectivo abstracto, devidamente rotulado, onde não faltam referências estereotipadas, saturadas dos preconceitos da praxe mais ordinários, no duplo sentido da palavra (até o «macho latino» veio à baila). Terceiro sinal: vislumbrar, por detrás do objecto analisado, um intuito doutrinador criteriosamente orquestrado por uma super-estrutura «obscura» (a «fauna» não é certamente inocente e livre), igualmente abstracta e estereotipada, empenhada em combater os «inimigos» e afins (Daniel Oliveira tratou logo de enumerar cinco). Quarto sinal: a fobia pelo «capital» e pelos donos do «capital», de onde, como se sabe, só pode vir o «Mal». Neste particular, Daniel Oliveira não se terá dado conta de que o «seu» Expresso – para o qual escreve a troco de uns patacos - é propriedade da Sojornal SA (por sua vez propriedade da Controljornal SGPS), tendo como administradores Francisco Pinto Balsemão, Luiz Vasconcellos, Mário Lopes, Mónica Balsemão, Paulo de Saldanha, Francisco Maria Balsemão e Pedro Norton de Matos. Ou seja, todos «colegas» do mafarrico e referido Jorge de Mello, dados também ao «mecenato ideológico». Esta última expressão, da autoria de Daniel Oliveira, leva-nos ao quinto e derradeiro sinal: a incapacidade de descolar, um só milímetro que seja, do léxico e dos paradigmas do papá Marx e da mamã Engels. Daniel Oliveira vintage, portanto.

2. Manuel Alegre dá conta do agravamento do seu estado nervoso, por culpa do director de um jornal económico, cujo nome ele convenientemente omite. Que barbaridade terá proferido esse «director» ao ponto de perturbar o poeta Alegre? Alegre explica e, devo dizer, não posso deixar de me solidarizar com ele. Há gente capaz de tudo. Então não é que o tal director foi insinuar que a «esquerda socialista» tende a olhar para o Estado como o «motor da economia»? Isto não se faz! Um infame! Faço minhas as palavras do poeta Alegre: «não há ninguém na esquerda socialista que defenda tal coisa.» Mais: «a matriz cultural da esquerda não é, nunca foi, estatista.» E eu acrescento, dirigindo-me ao «director do jornal económico»: antes de proferir essas atrocidades deveria ler, por exemplo, Hayek, esse grande ideólogo do socialismo.

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