O MacGuffin: abril 2005

sexta-feira, abril 22, 2005

Tempus fugit

Tenho andando arredado deste meu cantinho, à blogosfera plantado. Este lugar é um hobby, para além do qual existe vida. E, como diria Lili Caneças, vida é vida. É a vidinha. Foi a vidinha que me impediu de estar no último "É a Cultura, Estúpido" a tempo de, antes, avisar Helena Matos de que não deveria tentar «dialogar» com o Daniel Oliveira ou, depois, de lhe dizer que o Daniel Oliveira até não é mau rapaz, apesar de tudo; foi a vidinha que não me deixou ontem, na Fnac, apertar a mão ao Rui Ramos, ao Paulo Pinto Mascarenhas, ao Rodrigo Moita de Deus, ao Eduardo Nogueira Pinto, entre outros e para só falar nos que não conheço pessoalmente; e é a vidinha que me obriga a só voltar ao Contra a Corrente no dia 1 de Maio, precisamente no dia do trabalhador. Até lá, virei apenas para mudar a musiquinha na Jukebox.

Abraços.


quinta-feira, abril 21, 2005

Ec= 1/2 mv2

Sabeis, certamente, que a fórmula em epígrafe diz respeito a uma coisa chamada “energia cinética”. Não sabeis, talvez, da utilidade da dita aplicada ao quotidiano. Por exemplo, no campo da motricidade e mobilidade humanas. Atentemos no caso dos gordos, ou dos indivíduos com tendência a «pôr quilos» (expressão assaz conhecida e difundida em zootecnia), e tentemos, munidos da milagrosa fórmula, dotar os conhecimentos emanados da experiência vulgar e não metódica, de uma reserva cientifica mínima.

Do exercício se conclui, logo à partida, que, quando em esforço, a energia cinética libertada por esses corpos pré-danone não pode ser desvalorizada. Desde logo porque, em situações extremas (por exemplo, num sprint de 30 metros), a carga de energia libertada é altíssima, não alheia a todo um bufar e um arfar que nos remetem, regra geral, para a imagem de uma máquina a vapor sob pressão, de onde saltam já parafusos, anilhas e juntas, tal é a necessidade de libertar toda uma carga energética a caminho do sobrenatural.

Recorrendo, então, à fórmula, interessa saber qual das variáveis mais contribui para tal resultado: se a massa (m), se a velocidade (v). É aqui que a observação nos permite concluir, de forma clara e precisa, que a massa, para tais criaturas, é tudo. Só com elevados índices de massa (m) tais indivíduos almejam libertar/produzir elevados níveis de energia, o que, por outro lado, os acaba por iludir sobre uma hipotética, embora na verdade patética, performance «de se lhe tirar o chapéu». Tais indivíduos nem sequer se dão conta de que, aos outros – silhueta fina, barriga flat, modos aristocráticos - lhes basta tirar partido da velocidade (v) de forma prazenteiramente controlada e, diria mesmo, desinteressada - beneficiada que está, aquela variável, de um expoente. E o expoente, aqui, não se limita a indicar a potência a que esta variável se encontra elevada, mas também, e sobretudo, a «importância» da dita variável na equação. Na prática, significa isto: facilmente os magros suplantam os gordos em sede de energia cinética, uma vez que dispõem de uma notável capacidade motriz, aliada a um nobre e elegante porte atlético, que lhes permite inclusivamente, no decorrer da função, adoptar um olhar blasé à medida que observam, olhando para trás, o ar esforçado de quem bufa energia por todos os poros.

O problema é que certos gordos insistem em não perceber que a camada adiposa de que se deixaram cercar - por via de comportamentos alimentares erráticos e socialmente tortuosos - lhes colhe, na prática, o discernimento bastante para avaliar que qualquer aceleração de troncos, perdão, de pernas está fatalmente comprometida quando encimadas por um elemento que manda a brejeirice chamar de «cagueiro» (também conhecido por «bunda» descomunal). É, pois, com base nesta ilusão que «certos e determinados» indivíduos fortes (eufemismo amiúde utilizado) se julgam príncipes nas pistas de atletismo da vida (Ah leão!, que imagem tão bonita!)

PS: meu caro Tulius: 1.º) não sei onde foste buscar essa ideia de que eu tenho um Porsche; 2.º) escolhi a da energia cinética por mero acaso...; 3.º) O Magritte sabia-a toda.

terça-feira, abril 19, 2005

Waugh, Evelyn

“Mr Evelyn Waugh regrets that
he is unable to do what you so kindly suggest”



mensagem, pré-impressa em pequenos cartões, que Evelyn Waugh costumava enviar por forma a recusar pedidos ou convites que lhe eram endereçados.

sexta-feira, abril 15, 2005

Não, agora a sério





PS: os meus agradecimentos ao Pedro Mexia, sempre atento a estes «fenómenos».

We're drinking my friend

To the end of a brief episode,
Make it one for my baby
and one more for the road.

Parabéns Nuno. Dois aninhos de tradução simultânea.

Spooooooorting!

“O Medo de Existir” dissecado

(ou Explicado Às Criancinhas)
“Há certamente um «totalitarismo» próprio das «sociedades de controlo» (Foucault, Deleuze) actuais. A aplicação das novas tecnologias a todo o tipo de serviços, por exemplo, implica o imperativo de cumprir os regulamentos, sob pena de exclusão.”
A 12 de Março de 2002, José Gil tenta enviar, pela primeira vez, a sua declaração de rendimentos através do portal da DGCI. Após duas semanas de intensas mas infrutíferas tentativas, pensa, finalmente, tê-lo conseguido. Mas só aparentemente. Três dias depois recebe em casa uma ‘baixela’ Ideiacasa (123 peças), com a oferta de um espremedor de citrinos. “Foucault tinha razão: se tivesse sido a Baixela Pedro Alvares Cabral, ao invés da Infante Sagres, reuniria agora condições espistemológicas para ultrapassar este sentimento de profunda info-exclusão”. Como se depreende, não ultrapassou.

“A globalização acentua e generaliza este tipo de padrões únicos de comportamento – na necessidade de responder às exigências da produtividade do trabalho, de seguir as vias impostas pela funcionalidade dos serviços de saúde, de educação, de lazeres. Um exemplo emblemático já utilizado em Portugal, nos serviços prisionais, a pulseira magnética de localização à distância que o prisioneiro levará consigo sempre que se ausente da prisão. (Em breve seremos todos prisioneiros em liberdade, controlados à distância.)”
Na Primavera de 1978, em Paris, José Gil trava conhecimento com uma jovem roliça luxemburguesa (na altura a anorexia não era moda nem doença), durante um café au lait num bistro da moda. Poucas horas depois, envolvem-se num encantamento colérico que os leva, em registo de deboche quase sub-humano (na terminologia de Hannah Arendt), a práticas libidinosas que viriam a incluir a presença pró-activa de um conjunto de gadgets, de onde se destaca um par de algemas. Sem se aperceber dos propósitos malévolos da jovem luxemburguesa, Gil acede ao pedido da rapariga e deixa-se algemar à cama. É então que a rapariga roliça lhe saca, perante o seu olhar atónito e impotente, as obras completas de Deleuze, Foucault e Derrida (o dinheiro não lhe interessava). Nunca mais a viu. Desde então, pulseiras e algemas em sentido abstracto ou material, causam-lhe desconfiança e, por vezes, embaraço.

”Um dos efeitos mais subtis, poderosos e esquizofrenizantes do novo tipo de controlo que vai tomando posse da nossa vida quotidiana é a organização do espaço. Como já foi observado (Toni Negri, Michael Hardt, Império), é um espaço sem Fora: tudo se passa cada vez mais em vastos recintos de centros comerciais, de auditórios, de salas de conferências interactivas.
Mas, curiosamente, este espaço sem fora não se divide em territórios bem definidos, bem compartimentados e regulados. É um espaço
vago e fluente, onde os corpos circulam livremente, sem trajectos visíveis pré-determinados. O carácter paradoxal (e brutal) deste tipo de espaço que se generaliza por todo o planeta manifesta-se na desfasagem entre o movimento dos corpos e o seu fechamento, que o acompanha.”

A 14 de Junho de 2001, José Gil falha a inscrição no Clube de Pesca e Simiótica da Trafaria. Motivo: três dias antes, tinha visitado, pela primeira vez, o Centro Comercial Colombo e, sem saber muito bem como nem porquê, perdeu-se no emaranhado de ruas no interior-fora do edifício, não conseguindo alcançar o exterior-dentro. A confusão e o fechamento duram 73 horas, provocando uma desfasagem que o leva ao não-cumprimento do prazo de inscrição. A partir dessa data, o conceito de não-inscrição ganha uma dimensão feérica na obra do filosofo.

(continua…)

quinta-feira, abril 14, 2005

Pois, pois…

…está tudo bem, é tudo muito bonito, não faltam génios e tal mas o que eu sei é que já lá vão 2 aninhos (aprox. 700 dias) e ainda ninguém conseguiu aproximar-se disto (e desconto o latente anti-americanismo). O resto é conversa.


The Matthew Herbert Big Band Goodbye Swingtime (Accidental Records 2003)

quarta-feira, abril 13, 2005

The Life Aquatic With Steve Zissou

Um cão pirata sem uma perna; um trovador brasileiro (Seu Jorge) versado em covers de Bowie; um alemão (Willem Dafoe) não-estereotipado, sedento de um pai e com um nível de auto-estima abaixo de cão; um suposto explorador aquático (o fabuloso Bill Murray) com tiques de misantropia, sentido de orientação nulo, conhecimentos científicos duvidosos, armado em Jacques Cousteau e dono de um decrépito barco chamado Belafonte onde tudo parece funcionar à beira de um ataque de fusíveis; uma cientista filantropa (Angelica Huston), filha de bilionários, companheira de Zissou e ex-mulher de um pintas (Jeff Goldblum) que não é mais do que o nemesis do explorador armado em Jacques-Cousteau; um amigo perdido na boca de um tubarão-jaguar que ninguém sabe se existe; um suposto filho tardio (Owen Wilson) que não desperta grandes instintos paternais em Zissou, apesar da boa vontade de ambos (à imagem, aliás, de Royal Tenebaum/Gene Hackman); uma jornalista grávida (Cate Blanchett), vértice de um triangulo com pai e filho; um promotor/benfeitor (Michael Gambon) que tenta, a todo o custo, manter a empresa Zissou à tona de água.

Eis o universo andersoniano em todo o seu esplendor: familias disfuncionais, personagens deslocadas, exuberantes, excêntricas até na sua própria inocência, em cena num palco pincelado por um estilo barroco à lá 70’s, que confere ao filme uma aura revivalista e, ao mesmo tempo, nostálgica. Uma comédia, sim, mas uma comédia que recusa atirar-se à gargalhada fácil, procurando e estimulando, antes, o mais tímido e emotivo dos sorrisos. Se em The Royal Tenenbaums o filme tomava a forma de um livro, desta vez toma a forma de um documentário démodé sobre a vida marinha, onde os crustáceos são listados e os peixes de plasticina. Um mundo perdido, extinto, onde o analógico ainda vencia o digital, o amadorismo real suplantava o profissionalismo asséptico; onde se bebia Campari on the rocks ao som de um sintetizador Casio; onde se usava sneakers Adidas Superstar e fatos de treino de cores garridas; onde Bowie se travestia de Ziggy Stardust a caminho de Marte.

Anderson é um perfeccionista, um meticuloso artesão de ambientes em jeito de fábula, recheados de personagens ricas que se insinuam sobre nós de forma perfeita. Mais uma vez, por entre o formalismo, a plasticidade, a sátira e o bizarro, Anderson volta a tocar-nos como só ele o sabe fazer.


EPC sobre VPV e vice-versa

No seu Fio do Horizonte, Eduardo Prado Coelho resolveu mandar uma farpa a Vasco Pulido Valente, recorrendo ao velho queixume do “só diz mal”:

”Há crónicas de todos os géneros e feitios. Umas são comentários políticos. Outras têm uma dimensão panfletária. Algumas evocam aspectos da vida pessoal. Outras especializam-se, como Vasco Pulido Valente, em dizer mal de tudo e espalhar um ácido corrosivo sobre toda a realidade.(…)”

A melhor resposta a Eduardo Prado Coelho, escreveu-a Vasco Pulido Valente há cerca de trinta anos, numa publicação chamada O Cinéfilo. Tomem nota:

“O caso dele é, aliás, dos mais interessantes. Eu, por exemplo, nunca consegui decidir se o Eduardo escreve má prosa analítica ou má poesia confessional. Do arrebatamento lírico ao embrulhado comentário erudito, da dedicatória inflamada à citação sábia, passa por todos os registos em menos de meia página. A mim, isso levantou-me sempre insuperáveis problemas de leitura. A imprecisão e a verborreia do Eduardo-crítico não constituiriam precisamente a economia e a eficácia do Eduardo-poeta? E vice-versa? Não me desentenderia eu com um deles por pura incapacidade de apreciar o outro?”

terça-feira, abril 12, 2005

Parabéns

Ao biltre, à mui querida Batukada e ao Paulo Pinto Mascarenhas e wonder team. Mais, por favor. Queremos mais.


segunda-feira, abril 11, 2005

Helena

Uma autêntica palhaçada
Helena Matos in Público
"Esta semana teve lugar um peculiar incidente na Assembleia da República: os dois deputados do Partido Ecologista "Os Verdes" participaram no plenário de quinta-feira sentados em cadeiras colocadas no corredor entre as bancadas. Esta foi a forma arranjada por Heloísa Apolónia e Francisco Madeira Lopes para se manifestarem contra o facto de terem perdido o lugar na primeira fila do Parlamento de que têm usufruído.
No recurso que apresentou no final do plenário, Heloísa Apolónia afirmou: "Existe o direito à indignação. Assiste-nos o direito ao protesto." E garantiu: "À frente ou mais atrás continuaremos firmes." O caricato do episódio só é suplantado pelo que tem de constrangedor: os "Verdes" politicamente não existem nem nunca existiram. Criados há mais de 20 anos, não se lhes conhece uma iniciativa parlamentar de peso. Após ter passado horas a consultar o site da Assembleia da República em busca dum debate parlamentar em que os deputados do Partido Ecologista "Os Verdes" não tivessem alinhado com o PCP, estou habilitada a afirmar que o site da AR é óptimo, mas que o máximo do desalinhamento dos Verdes em relação ao PCP é absterem-se nas matérias em que o partido vota contra ou a favor.
A propósito de Franco, um jornalista espanhol disse-me que as hemerotecas eram a consciência dos jornalistas. Este arquivo da AR é, em muito boa medida, a consciência da classe política portuguesa. Acresce que está excelentemente organizado. Cobre um período muito mais alargado que o da própria AR - estão disponíveis os textos das diversas câmaras parlamentares desde 1822 -, apresenta várias e acessíveis formas de pequisa. Assim recomendo vivamente que se vá a http://debates.parlamento.pt e se escolha a opção "Pesquisa por texto livre". Experimente-se fazer, por exemplo, nas legislaturas III República uma pesquisa para palavras como "igreja", "nacionalizações", "Angola". Garanto que se fica com matéria de reflexão para várias semanas. Não apenas por aquilo que as pessoas defenderam e defendem, mas sobretudo pela capacidade que muitas revelam para esquecer o que disseram. Quanto aos "Verdes", a sua irrelevância política torna-se ainda mais óbvia quando se lêem as declarações dos seus sucessivos deputados.
O problema dos "Verdes" não é serem vermelhos por dentro - coisa que nem sequer foi segredo; o seu problema era e é limitarem-se a declinar em versão light o discurso do PCP. Esta estratégia funciona muito bem, quando transposta para movimentos de intelectuais, movimentos pela paz ou pela solidariedade, grupos de jovens ou de utentes... Mas, num parlamento, tudo rapidamente se reduz a uma caricatura. O Partido Ecologista "Os Verdes" é, em Portugal, uma criação administrativa do PCP, como, aliás, o foram e são tantos outros movimentos e organizações. Simplesmente estes últimos desaparecem discretamente do nosso olhar, quando deixam de ser úteis, coisa que não é possível de fazer com um partido com assento parlamentar e que, ao contrário do MDP-CDE, nem sequer tem históricos para lhe fecharem a porta.
Um dos dados mais interessantes acerca dos "Verdes" é a sua expressão eleitoral. Quantas pessoas votam neles? Ninguém sabe. Não sendo um homem propriamente conhecido pelo seu sentido de humor, Durão Barroso acertou no alvo quando, em Junho de 2003, no meio dum debate parlamentar, lembrou a Heloísa Apolónia, que acabara de o interpelar sobre as questões da representatividade: "A verdade é que o seu partido nunca foi a votos directamente, sr.ª deputada. O seu partido está aqui representado numa coligação." E, pode acrescentar-se com toda a tranquilidade, não só não existe fora dessa coligação, como não existe também fora da Assembleia da República. Por exemplo, quando aconteceu um congresso dos "Verdes"? Quem são os dirigentes desse partido de que só se conhecem os dois deputados a que têm direito na Assembleia da República? Quando fizeram um comício?...
"Os Verdes" surgem na Assembleia da República em 1983. No final da década de 70, a possibilidade de Portugal optar pela energia nuclear tornara-se o caldo de cultura excelente para o aparecimento de várias organizações ambientalistas. Para os vários jovens que já não se reviam nas juventudes partidárias, as causas de ambiente preencheram o espaço afectivo e militante que, poucos anos antes, fora afectado à política partidária.
Esse era um mundo polifacético onde se cruzavam militantes desiludidos da extrema-esquerda, monárquicos, saudosos do movimento hippie, adeptos da alimentação macrobiótica ou da observação das aves... com nomes incontornáveis da cultura portuguesa como António José Saraiva.
O Partido Ecologista "Os Verdes" não tinha nada a ver com este mundo. Foi criado por uma cúpula partidária. Ao fim de 20 anos é como corpo estranho que se mantém. Nunca conseguiu ganhar credibilidade na área do ambiente, nem peso político. As palavras que a 17 de Março de 1983 o então deputado pelo PPM Luís Coimbra proferiu na AR, ao tomar conhecimento que nas listas da APU para as próximas eleições, constava um Partido Ecologista "Os Verdes" foram: "O chamado "Partido Verde" não é conhecido em nenhum meio ecológico existente em Portugal (...), não é conhecido em nenhuma das ligas de protecção da natureza e defesa do património que existem pelo país fora. (...) As pessoas que vieram a público nunca foram "verdes", ecologistas, nem nada fizeram até hoje, em Portugal, em defesa da protecção da natureza, em qualquer situação que se relacione com a defesa do ambiente.
(...) Ora, como esse autodenominado "Partido Verde" nada afirma, nada clarifica, as pessoas que o integram não são conhecidas no meio, eu, em nome do meu partido, afirmo muito claramente que consideramos a existência desse autodenominado "Partido Verde" uma autêntica palhaçada."

P. S. - É patética a catadupa de argumentos que se arranjam para não promover a troca de manuais escolares. Simultaneamente procura-se instilar a ideia de que, não sendo possível trocá-los, o Estado devia pagá-los. Deixando para melhor oportunidade a discussão em torno do que é ser pobre - gasta-se muito mais em telemóveis do que em livros! -, é óbvio que no dia em que o Estado passar a pagar os manuais escolares não mais teremos controlo sobre essa despesa. E se actualmente é vergonhosa a panóplia de livros obrigatórios, no dia em que passarem as escolas a pagá-los podemos preparar-nos para o pior.
Antes pelo contrário, os livros escolares devem ser pagos pelas famílias, que os devem entregar nas escolas para se começar a promover a troca dos manuais. Que algumas famílias tenham apoios para comprar os livros é outra matéria que, de modo algum, se deve misturar com esta. E, absolutamente ao contrário do que tem sido defendido, acho que receber livros que já tenham sido usados não deve ser um estigma dos alunos eufemisticamente designados como carenciados. A reutilização não é uma maldição dos pobres."

sexta-feira, abril 08, 2005

Incrível!

quinta-feira, abril 07, 2005

Witty


"I thought we might celebrate your approval of my request for your
daughter’s hand with a couple of lines of coke"

in The Spectator

E nós por cá?


“Azor retoma a sua lenta caminhada.
PIMENTA BUENO Evelyn Waugh…
AZOR Quem?
PIMENTA BUENO O escritor inglês Evelyn Waugh passou pelo Brasil em 1933. Ficou duas semanas em Boa Vista, à espera de um barco que o levasse até Manaus. Decepcionado com o que viu, decidiu retornar imediatamente à Guiana.
AZOR Guiana?
PIMENTA BUENO A fim de empreender a viagem de volta para a Guiana, através da floresta amazónica, Evelyn Waugh comprou dois cavalos em Boa Vista. Assim que partiu, o cavalo de carga começou a mancar, com a pata dianteira inchada. “É uma crueldade obrigá-lo a prosseguir, mas o que fazer?”
AZOR Minha perna também está inchada…
PIMENTA BUENO O segundo cavalo, por sua vez, “resistiu bem à primeira hora, mas logo desanimou, como sempre ocorre a esses cavalos”.
AZOR Eu também desanimei…
PIMENTA BUENO Algumas milhas adiante, Evelyn Waugh encontrou uma fazenda de mocinhas sorridentes onde um vaqueiro caolho aceitou substituir-lhe um dos cavalos. O novo cavalo era “péssimo”.
AZOR Eu também sou um péssimo cavalo…
PIMENTA BUENO Em Nova Cintra, um vaqueiro parecido com um retrato de El Greco deu-lhe um cavalo malhado em troca de uma lata de salsichas. O cavalo malhado perdeu-se na floresta.
AZOR Estou passando mal… Estou ficando doente…
PIMENTA BUENO Deu para entender?
AZOR Não.
PIMENTA BUENO Cavalos tontos e preguiçosos como você conjuram para retardar nossa fuga do país!

Azor acelera o passo por alguns quilómetros. Pimenta Bueno reflecte.

PIMENTA BUENO Pode haver chatice mais degradante que a nossa?
AZOR Chatice?
PIMENTA BUENO Chatice! Apesar de permanecer apenas duas semanas no Brasil, perdido num vilarejo na fronteira com a Guiana, Evelyn Waugh traçou a mais perfeita síntese da sociedade brasileira… Quer saber qual é?
AZOR Não.
PIMENTA BUENO “Chatice degradante; conversas insuportáveis e nada para ler.””

Diogo Mainardi
in Contra o Brasil, Companhia das Letras 1998

Na amizade como no amor

Never Give All The Heart
Never give all the heart, for love
Will hardly seem worth thinking of
To passionate women if it seem
Certain, and they never dream
That it fades out from kiss to kiss;
For everything that’s lovely is
But a brief, dreamy, kind delight,
O never give the heart outright,
For they, for all smooth lips can say,
Have given their hearts up to the play.
And who could play it well enough
If dead and dumb and blind with love?
He that made this knows all the cost,
For he gave all his heart and lost.

W. B. Yeats

quarta-feira, abril 06, 2005

Lembrar Sartre?

Why not:

"Como não éramos membros do Partido, não era nosso dever escrever sobre os campos de trabalho soviético [gulags]; éramos livres de ficar à margem das querelas sobre a natureza do sistema, desde que não ocorressem coisas sociologicamente significativas."

"Como você [Camus], eu acho esses campos intoleráveis, mas acho igualmente intolerável o uso que todos os dias se faz deles na imprensa burguesa."

PS: O pulha existencialista.

“Saul Bellow dies at the age of 89”

segunda-feira, abril 04, 2005

Parabéns Luciano!

O Luciano foi papá pela terceira vez. Muitos parabéns ao pai e à mãe. Bem-vindo ao mundo João.


Gender is the night

My Moleskine (aka Inês). O regresso agora público.

"I should have been a pair of ragged claws scuttling across the floors of silent seas."

Expresso, 2 Abril 2005, página 12

1. Daniel Oliveira (o do Barnabé) dá à luz prosa notável, a páginas doze do Expresso deste fim-de-semana. Notável no sentido em que ilustra, na perfeição, de que forma pensa um homem de extrema-esquerda. Está lá tudo: a insinuação, o léxico, a má-fé. O título é, logo à partida, ilustrativo: “A fauna do Atlântico”. O, ou, neste caso, a «Atlântico» é a nova e já aqui publicitada revista mensal distribuída pelo Público, cuja direcção está a cargo de Helena Matos. Primeiro sinal característico: a bestialização dos outros. A «fauna», ou seja, o «grupúsculo» de «animais». Segundo sinal: agregar, transfigurando, um conjunto de colunistas unipessoais – senhores, certamente, de sensibilidades diferentes - num colectivo abstracto, devidamente rotulado, onde não faltam referências estereotipadas, saturadas dos preconceitos da praxe mais ordinários, no duplo sentido da palavra (até o «macho latino» veio à baila). Terceiro sinal: vislumbrar, por detrás do objecto analisado, um intuito doutrinador criteriosamente orquestrado por uma super-estrutura «obscura» (a «fauna» não é certamente inocente e livre), igualmente abstracta e estereotipada, empenhada em combater os «inimigos» e afins (Daniel Oliveira tratou logo de enumerar cinco). Quarto sinal: a fobia pelo «capital» e pelos donos do «capital», de onde, como se sabe, só pode vir o «Mal». Neste particular, Daniel Oliveira não se terá dado conta de que o «seu» Expresso – para o qual escreve a troco de uns patacos - é propriedade da Sojornal SA (por sua vez propriedade da Controljornal SGPS), tendo como administradores Francisco Pinto Balsemão, Luiz Vasconcellos, Mário Lopes, Mónica Balsemão, Paulo de Saldanha, Francisco Maria Balsemão e Pedro Norton de Matos. Ou seja, todos «colegas» do mafarrico e referido Jorge de Mello, dados também ao «mecenato ideológico». Esta última expressão, da autoria de Daniel Oliveira, leva-nos ao quinto e derradeiro sinal: a incapacidade de descolar, um só milímetro que seja, do léxico e dos paradigmas do papá Marx e da mamã Engels. Daniel Oliveira vintage, portanto.

2. Manuel Alegre dá conta do agravamento do seu estado nervoso, por culpa do director de um jornal económico, cujo nome ele convenientemente omite. Que barbaridade terá proferido esse «director» ao ponto de perturbar o poeta Alegre? Alegre explica e, devo dizer, não posso deixar de me solidarizar com ele. Há gente capaz de tudo. Então não é que o tal director foi insinuar que a «esquerda socialista» tende a olhar para o Estado como o «motor da economia»? Isto não se faz! Um infame! Faço minhas as palavras do poeta Alegre: «não há ninguém na esquerda socialista que defenda tal coisa.» Mais: «a matriz cultural da esquerda não é, nunca foi, estatista.» E eu acrescento, dirigindo-me ao «director do jornal económico»: antes de proferir essas atrocidades deveria ler, por exemplo, Hayek, esse grande ideólogo do socialismo.

Um abraço, Luis

Após inúmeros desencontros circunstanciais e encontros tangenciais, detivemo-nos, ontem, à conversa, na sua cosy e encantadora casa, em pleno centro histórico eborense. E assim se revelou o Luis Carmelo: uma pessoa simples, amável, interessante, de quem fácil e irrevogavelmente nos tornamos amigos. Ainda para mais quando constatamos que o que nos une esmaga pungentemente o que nos poderia separar. Por exemplo, o facto quase indesculpável de ele ser benfiquista. Como diria Osgood Fielding III, «nobody’s perfect.»

PS: Vê lá se arranjas uma Penélope para o teu Ulisses.

sábado, abril 02, 2005

Parabéns

O MacGuffin felicita a Charlotte pelo 2.º aniversário do Bomba Inteligente. Cheers.

sexta-feira, abril 01, 2005

Obrigado, Alberto

Last night a Woody Allen standup comedy CD saved my life.

PS: Tinhas razão. O CD é excelente. (Tudo bem explicadinho. Todo o cuidado é pouco)
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