O MacGuffin: Da musiquinha no blogue

quarta-feira, março 30, 2005

Da musiquinha no blogue

Sobre a questão da musiquinha ambiente nos blogues, o Nuno tratou de abrir as hostilidades com um «manifesto» contra a «epidemia»:

”Há uma nova epidemia que grassa na blogosfera: a da musiquinha no blogue. Eu, para não estar com coisas, odeio. Nessas matérias sou muito Livro de Eclesiastes (ou Byrds, se preferirem): há um lugar e um tempo para tudo. O computador sujeito à banda sonora alheia - por melhor que seja , e nos blogues que frequento, é -, mesmo com a opção do stop, não deixa de ser irritante. O bom gosto, quando se espalha, não deixa de ser epidémico; e não gosto de epidemias.
Não se leia nisto qualquer tentação totalitária - por mim, venham os comentários semióticos sobre peúgas a lavar ou a publicação detalhada do almoço ingerido por cada autor. Estou-me nas tintas, e este é o meio que tem a liberdade como definição. Mas francamente, partilha por partilha, prefiro o silêncio tonitruante das palavras de cada um. I blame it on you, Char!”
.

Esta «Char» é a nossa Bomba Inteligente, uma das percursoras do movimento, que tratou logo de ripostar:

”Nuno, tenho as colunas do computador sempre desligadas. Parece-me que se trata de um caso de sentar e esperar que o entusiasmo pelo brinquedo novo passe. Pode demorar uma semana, um mês, um ano... e sabe-se lá os danos que entretanto causará. Dedico-te Human Nature, de Michael Jackson. E isso bem alto!”

Lamento, meus caros, mas vou ter que dizer isto: deal with it. Pode ser, de facto, muito «irritante», mas a blogosfera é isto: um espaço de livre acesso e de liberdade - democrático e democratizador no que aos gostos e às «tecnologias» diz respeito - vedado a exercícios elitistas ou a exclusivos estilísticos ou formais. Eu conheço o Nuno e sei que não há naquele corpo uma só célula com tendências totalitárias. Mas, sem querer, o Nuno acaba por veicular uma opinião um tanto ou quanto jactante e blase. O caso da musica ambiente nem sequer é, aliás, um «caso» ou um «problema». É só carregar no stop. Simples.

Também não me parece de bom tom afirmar o que afirmou a Charlotte. Há coisas que se fazem mas que não se dizem. A Charlotte foi das primeiras na blogosfera a fazer uso desse «expediente». O seu intuito era, é, o de dar música (no sentido nobre) aos seus leitores. Mais uma vez: quem quisesse ouvia, quem não quisesse escolhia o «stop». Ao dizer - agora que a «ralé» tratou de «massificar» a coisa - que tem as colunas do seu computador desligadas, a Charlotte resvala perigosamente para a sobranceria. É um pouco como gostar de dar música aos outros mas não admitir que os outros lhe dêem música de volta, ou porque é «chato», ou porque já são muitos, ou porque a ideia até foi minha e tal. Eu sei que não foi essa a sua intenção, mas o que dirão os que a lêem, incluindo aqueles que enveredaram por colocar música nos seus próprios blogues?

Eu terei sempre todo o gosto do mundo em visitar o Bomba Inteligente, quer haja ou não música. Se a música marcar presença, a primeira coisa que farei é saber se me agrada e se estou com paciência para tal. Se assim for, escutá-la-ei com o maior prazer. Caso contrário, «stop». Mais uma vez, simples.

Repito: onde está o problema? Ao Nuno e à Charlotte dedico o Chelsea Hotel, do mestre Leonard Cohen. E um abraço a ambos.

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