O MacGuffin: janeiro 2005

segunda-feira, janeiro 31, 2005

Ora tomem


Apraz-me pensar que na terra destas senhoras o uso do indicador equivale ao ocidental up yours!. A quem de direito.


Estavam à espera do quê?

(corrigido e aumentado)
Não percebi a celeuma e o incómodo provocados pelo artigo de Diogo Freitas do Amaral, publicado na revista Visão.

1. A posição de Freitas do Amaral está longe de ser original. Nada tem de extraordinária. Há gente à direita a pensar da mesmíssima forma, ou seja, a preferir o mal menor (Sócrates) contra uma nódoa (Santana) que pediu durante demasiado tempo para ser removida (via trapalhadas e golpadas palacianas). Face à constatação de que Sócrates vai vencer, há quem esteja na disposição de engolir um batráquio de generosas dimensões, votando e incitando ao voto no PS para que este não fique refém do Dr. Louçã e do Sr. Jerónimo. Não concordo com esta posição e com este tipo de raciocínio, mas não estou na disposição de lhes retirar um pingo de legitimidade, mesmo que venha da boca de supostos “direitistas” (pessoalmente conheço casos). Pela minha parte, não vou votar. À direita nenhum dos candidatos e nenhum dos programas me convence (embora simpatize mais com a inteligência de Portas do que com a intuição de Santana). À esquerda nem vou falar.

2. Dito isto, depreenderão alguns que tomo Freitas do Amaral por homem de direita. Errado. Nem de direita, nem de esquerda. Há muito que Freitas do Amaral nos habituou a todo o género de circunvoluções - ora mais escabrosas, ora em registo pacato. Vestindo a fatiota de “Homem Livre” (está bem, abelha), Freitas do Amaral está longe de encaixar no arquétipo do «político-enguia» - tradicionalmente medíocre, sem passado, por conveniência discreto – e o rótulo de «vira-casaca» - normalmente atribuído a quem um dia viu a luz (normalmente em tenra idade) e tratou de arrepiar caminho – também não cola. Freitas do Amaral é um caso à parte. Homem inteligente, académico brilhante, dono de uma educação e de uma simpatia irrepreensíveis, as posições políticas de Diogo Freitas do Amaral sempre me pareceram difusas. Nunca foi um homem de fortes convicções. Aqueles que vislumbraram no Freitas “candidato presidencial contra Soares” um político de direita, esqueceram o seu passado (que passou pela também difusa Democracia Cristã). Um passado que chegou até aos nossos dias, onde sempre marcaram presença fortes traços de calculismo e de desmedida ambição, a que se juntaram, com os anos, uma notória frustração em sede de carreira política e um gritante ressabiamento face a episódios de vida difíceis de digerir por um «senador» (o imbróglio com Cavaco após as eleições, a sua passagem pela ONU, o facto do CDS ter sido assaltado por jovens políticos dispostos a virar a página com a sua fotografia). As tentativas de aglutinação que têm vindo a pontuar a sua postura pública são a prova disso (o artigo da Visão é brilhante do ponto de vista estratégico: contentando a esquerda, acaba por não ferir o eleitorado do centrão, desiludido que está com Santana). Em boa verdade, Freitas do Amaral não mudou muito. O que se passa actualmente é que ele tem cada vez mais dificuldade em esconder os seus ódios de estimação, a sua embirração ad hominem por certas figuras da política portuguesa (Santana, Portas, etc.) e a forma como aderiu cegamente a modas muito in (o anti-americanismo, o pró-palestiniamismo). Por outro lado, Freitas do Amaral ainda acredita. Ainda sonha com o seu lugar na história. Não é de estranhar que se esteja nas tintas para o «seu» partido ou para colagens claras à direita ou à esquerda. A estratégia a adoptar só podia ser uma: a do cata-vento.

Uma «farsa»

Daniel Oliveirawho else? – abriu a boca e decretou, com aquele semblante de ser repleto: “Uma farsa! As eleições no Iraque são uma farsa!”. Isto garantia-nos o ciente Daniel na sexta-feira passada, aquando da gravação do programa O Eixo do Mal (maradona, aponta aí). “Está-se mesmo a ver o que vai acontecer”, exclamavam outros que não em Carnaxide. Muitos foram os que secretamente desejaram – que digo eu!!! – ansiaram – ai! – cobiçaram – oops! - redigiram – agora está melhor – a crónica de uma farsa mais que anunciada. Afinal de contas, o país não tinha «tradição» democrática. Afinal de contas, por sofrerem há mais de um ano as bárbaras vicissitudes de uma tentativa mendaz e absurda de instaurar um regime democrático «à força», os iraquianos voltariam as costas ao exercício. Afinal de contas, como toda a gente sabe e a imprensa «séria» repete há meses, os terroristas no Iraque são mais que as mães (há quem assegure que todo o Iraque é hoje um enorme campo de treino para sunitas ressabiados, entes de Bin Laden e camaradas de Al Zarqawi). Afinal de contas, asseguravam os «especialistas», da mesma forma que já todo o iraquiano tinha percebido que tinha sido um erro trocar Saddam por Bush (volta avôzinho, está perdoado), ninguém estaria na disposição de trocar um dia caseiro, ao som de morteiros e dinamite a pipocar, por uma bala no peito ou no meio dos olhos a caminho de uma assembleia de voto. É claro que algumas televisões ocidentais fariam o favor de filmar meia-dúzia de iraquianos – provavelmente falsos ou drogados para o efeito – a caminho das urnas. Mas nada disso seria suficiente para contrariar o óbvio: as eleições no Iraque seriam uma farsa.

Parece-me, agora, claríssimo que as eleições foram um sucesso. Não, a sério: um estrondoso sucesso, mesmo levando em linha de conta os atentados e as mortes que se registaram. Sobretudo levando em consideração todos esses «condicionalismos»: a violência, a morte, as ameaças. Impressionou-me saber que a esmagadora maioria dos iraquianos venceu o medo, ergueu a cabeça, conquistou a dignidade perdida e decidiu escolher. Contra os terroristas no terreno, contra a vizinhança «amiga», contra os cínicos e desdenhosos que, a ocidente, os viam cobardes e toscos demais para perceber o espírito da «coisa».

É claro que estas linhas não passam de ingenuidade, própria de quem foi borrifado por fragmentos de positivismo que não permitem o mergulho clarificador no âmago da questão, na essência dos acontecimentos. É claro que, dentro de dias, ou de horas, a generalidade dos escribas do Barnabé ou do Blog de Esquerda irão dissecar as eleições e ensinar aos que, como eu, bestilizados num gozo de nababo, ainda não perceberam que tudo não passou de uma enorme «farsa» (sim, o termo é sonante e não convêm que se perca), já que o terrorismo vai continuar, já que o forte aparato de segurança foi um claro indício de que no Iraque a democracia ainda está longe, já que os xiitas vêm aí e tudo vai, por isso, acabar mal. Muito mal. Eu sei que sou assim: uma inefável besta.

PS: Longe de mim pôr em causa as contas de merceeiro do Daniel (aqui), mas gostaria muito que ele explicasse ao auditório qual a metodologia empregue para estimar que, dos 27 milhões de iraquianos, 75% são adultos. A sério. Por uma razão: se a percentagem for menor – é claramente menor - as contas do Daniel saem furadas.


(foto: The New York Times)

Concordo ou talvez não

O Rui estava a ver a Buffy quando deu de caras com uma heresia produzida por moi même. É o que dá ver a Buffy. Diz o Rui que não gosta do Neil Jordan. Eu também não. Diz que os filmes de Jordan são todos maus. Eu digo mais: são uma bosta. À excepção, claro, de The End of The Affair. De resto, o Neil Jordan até podia ter realizado o Plan 9 From Outer Space. Who gives a shit? O The End Of The Affair é um excelente filme, ponto final. Onde o Rui vê falta de voracidade e de ferocidade, eu vejo discrição, contenção, elegância, uma clara renuncia em querer filmar mais um filmezinho repleto de emoção barata, acção gratuita e hiper-realismo de pacotilha. O filme peca por excesso de gloss e falta de lugubridade? Não creio. Jordan consegue um equilíbrio perfeito entre o acessório e o essencial: o filme é suficientemente pesado em termos de atmosfera (nem por uma vez se vê um raio de sol e a chuva marca presença perturbante) mas não o suficiente para deslocar a atenção do que interessa, num filme que é dos actores: a impossibilidade do amor, o princípio do fim do princípio, a falibilidade humana, a fé e a culpa em clara disputa pelo preço do amor. Um filme, e um livro, que se movimenta num triângulo amoroso constituído por um impotente do desejo (Rea, o marido), uma mulher em busca da felicidade e do amor (Moore, a esposa) e um homem cínico e vivido que volta a apaixonar-se beyond a reasonable doubt (o excelente e clássico Fiennes, graças a Deus a anos luz dos nada «chatos» cabotinos de serviço da sua geração). Até em relação a Michael Nyman discordamos: neste filme, Nyman (de quem não sou particularmente um fã…) põe de lado o lado estridente e pomposo das suas habituais criações.

Dou razão ao Rui num ponto: ao suprimir a figura de Smythe (sobrepondo-a à do padre), Jordan perde a oportunidade de salpicar o filme de algum humor (embora, no essencial, a troca não belisque o ponto em questão). Só não penso que, no livro, Smythe se tenha convertido ao que quer que seja…

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Auschwitz: foi só há 60 anos

Krematorium II

The End Of The Affair

Tinha lido o livro. Um grandioso livro, como é habitual em Graham Greene. Em grande parte autobiográfico. Tinha conhecimento da sua adaptação ao cinema pela mão de Edward Dmytryk (com a deslumbrante Deborah Kerr). Não tinha visto a versão de Neil Jordan, com Ralph Fiennes, Julianne Moore e Stephen Rea. Por sugestão de dois amigos (este e este) comprei o DVD. Disseram-me que a crítica, na altura, tinha classificado o filme como mediano (tipicamente 3 estrelas). Ontem, vi o dito.

Bendita gripe, é o que posso dizer. Bendita a gripe que me empurrou para o remanso do lar e me levou a ver a versão de Neil Jordan e a confirmar a absoluta cretinice e bovinidade de que padecem os críticos de cinema da paróquia. The End Of The Affair, versão Neil Jordan, é um grande filme. Excelente trabalho de casting (Fiennes, Moore e Rea em absoluto estado de graça), grande banda sonora de Michael Nyman, uma discreta mas elegante e competentíssima fotografia, uma história linda e dolorosa (daquelas que nos faz soltar a lágrima muda) contada com toda a sensibilidade do mundo (com tempo e compasso). Jordan é fidelíssimo ao romance, à excepção de uma troca curiosa, e bem conseguida, de personagens: é o filho de Parkis quem tem a mancha na cara, ao contrário de Smythe, no livro, o qual, por sua vez, é sobreposto à personagem do padre. De longe, a melhor adaptação. Recomenda-se a quem gosta de cinema ou a quem se queira redimir com.


Cate II

Via Technorati, vejo que no mesmo dia em que postei o texto sobre a Cate Blanchett, o João Pedro Pimenta também fez o elogia da diva, a propósito do competente Heaven (que eu também vi na 2, Domingo passado!). Mais uma feliz coincidência (a segunda no prazo de duas semanas). A blogosfera lusa adensa-se.


quarta-feira, janeiro 26, 2005

Biased

No dia em que Israel suspendeu as negociações com a Autoridade Palestiniana por causa de mais um atentado terrorista, os media portugueses, em geral, e certos blogues em particular (o Barnabé, por exemplo) fizeram questão de mencionar o facto. De passagem, aproveitaram para atribuir as culpas a Sharon por mais um momento de impasse. Pouco lhes importou o motivo: um atentado terrorista. Coisa menor, está visto. Até só morreram quatro ou cinco pessoas, não é verdade? Uma justificação fraca, típica de quem não quer falar, sugeriram algumas almas.

Hoje, o NYT (insuspeito, julgo eu) dá-nos conta de que Israel decidiu suspender os raids cirúrgicos sobre militantes palestinianos, revelando vontade em voltar à mesa das negociações com Abbas. A notícia do NYT fala mesmo em “providing further signs of its warming relations with the new Palestinian president”. E em Portugal? Silêncio absoluto. O habitual, portanto.

Site Meter my ass!

Se há coisa com que eu fico lixado é com as avarias no sitemeter, durante as quais a contagem estanca (foi hoje o caso). Não por mim. Quando tal acontece (raras vezes, felizmente), o biltre ilude-se. Não é que venha mal ao mundo imaginá-lo aos pulos, em frente ao pc, de sorriso perene no semblante, estilhaçando os abat-jours do tecto do seu quarto (o utópico prende-se apenas com o facto de ser fisicamente impossível pular no caso dele, face à adiposidade acumulada afincadamente ao longo de anos em casas de pasto de terceira categoria, onde o unto e a banha abundam, porque o resto é inteiramente verdade). Mas tenho pena. Sofro com quem se ilude. Por uma razão simples: a queda, no dia seguinte, é dolorosa. O confronto com a verdade é momento penoso. Por isso, caro Diego, daqui segue um abraço. E, pela tua saúde, não abuses do chispe.

Série: discos da minha vida #40


Lady in Satin Billie Holiday

Por agora, é tudo. A lista continha 50 entradas. Os remanescente fica para depois. Acharão, alguns, que é muito disco. Não é. Aqui em casa tenho cerca de quatrocentos discos (cd's + vinil). Mesmo admitindo que tenha comprado alguns de forma precipitada, i.e., errada (na qual o amplificador terá sido uma única vez fustigado), a esmagadora maioria foi adquirida por gosto e com toda a convicção. Resumir uma lista de trezentos e tal discos para cinquenta eleitos não é tarefa fácil. De resto, as listas valem o que valem. Acabamos sempre por nos esquecer de alguns. Por exemplo, o Daydream Nation dos Sonic Youth, o If I Die, I Die dos Virgin Prunes, o Surfer Rosa dos Pixies. Entre outros. Por razões várias: puro e inocente esquecimento; porque envelheceram mal no nosso imaginário, apesar de terem sido importantes numa fase da nossa vida; por opção de género (não quis insistir no jazz para não sobrecarregar ainda mais a lista); etc. etc. Enfim, é trabalho ingrato. Mas não deixa de ser divertido.

Série: discos da minha vida #39


Colossal Youth Young Marble Giants

Série: discos da minha vida #38


I See a Darkness Bonnie ‘Prince’ Billy

Série: discos da minha vida #37


Different Trains Steve Reich/Pat Metheny

Série: discos da minha vida #36


Born Sandy Devotional The Triffids

Esclarecimentos

Caro Luis:

1. Nunca defendi a política de colonatos de Israel. Trata-se de um entrave à paz. Sou, por isso, contra.

2. Se consideras um insulto dizer que a Autoridade Palestiniana tem poder, ou que a Palestina goza de alguma autonomia territorial, levanto algumas questões barbaramente básicas: Por que razão houve eleições? Por que razão se disputou o poder na Palestina? Por que razão se financia a Palestina? Por que razão se fala em “economia palestiniana”, “política palestiniana”, etc.? Há factos que não se podem sonegar: largas áreas da Cisjordânia são totalmente autónomas e encontram-se sob controlo palestinano, no seguimento do DOP (Declaration of Principles on Interim Self-Government Arrangements, assinado a 13 de Setembro de 1993 em Washington). De resto, a situação é demasiado complexa para declarações definitivas.

Acho que, no essencial, estamos entendidos.

PS: e uma gripe, não queres?

terça-feira, janeiro 25, 2005

Série: discos da minha vida #35


Songs to Learn and Sing Echo & The Bunnymen

Já agora, acrescenta este

amigo Luis.


Série: discos da minha vida #34


The Queen Is Dead The Smiths

Luciano

Amaral. Imprescindível. Aqui ou aqui.

Cate

João, Ricardo: afinal, não era à Kate que eu me referia, mas sim à Cate. Cate Blanchett. Mulher linda, fabulosa actriz. A (re)vê-la, brevemente, em The Aviator.


Série: discos da minha vida #33


Genius of Modern Music vol. 1 Thelonious Monk

Doutrina Louçã

No debate entre Portas e Louçã, ficámos a saber que o dirigente e candidato a primeiro-ministro do Bloco de Esquerda – o partido da Verdade, da Gravidade e da Integridade – defende que se deve vedar, ou no mínimo menosprezar, a opinião dos que, nunca tendo concebido um filho ou participado na concepção e criação de um petiz, se atrevam a discorrer sobre a temática da IVG, vulgo «aborto». Parafraseando o douto líder, quem nunca teve um filho não só não sabe o que é o sorriso de uma criança como não está habilitado a falar sobre o assunto. Isto, presumo, atira para a sarjeta a opinião, por exemplo, das meninas BE que, para além de continuarem a mandar na sua barriguinha, nunca assistiram ao rebentamento das suas próprias águas. Perdão? Parece que não. A doutrina Louçã só se aplica aos que são contra o aborto (seja quais forem as razões: sérias, menos sérias, de princípio, etc.). Os virgens em matéria de concepção que sejam a favor do aborto, já podem dizer o que lhes aprouver. Tomámos nota, pastor Louçã.

Série: discos da minha vida #32


The Complete Village Vanguard Recordings John Coltrane

Troglodita

Qualquer capital de erudição e sofisticação que um homem tenha adquirido ao longo de anos, seja por via da praxis dita «social», quer através do estudo espistemológico da estética e da ética do amor e do belo - sob a égide dos mais proeminentes escritores, filósofos, poetas e bardos que o mundo viu nascer - é patética e fatalmente conspurcado perante o vislumbramento de uma fêmea deslumbrante. Daquelas lindas de morrer. Toda uma colectividade de gestos, tiques e expressões, apreendidas e ensaiadas com especial minúcia por entre volumes e páginas de Waughs, Greenes, Chandlers & Ca. Lda., é soterrada de forma irremediável. A pose respeitável e grave, a expressão blasé e bogartmente desinteressada, o sorriso vendedor de charme, os gestos elegantes e meio aristocráticos – tudo cede lugar ao olhar de basbaque, ao sorriso aparvalhado, à boca levemente escancarada, à epilepsia do gesto, à acidental e lúbrica baba. O ponto alto da figura triste é atingido quando ao travelling da eterna transposição do «objecto» desejado se segue a meia-volta voyeurista. De volta, portanto, ao objecto. Um gajo bem que luta contra os instintos e pensa para além dos instintos mas, como toda a gente sabe, ainda há muito pouco tempo se saiu da caverna.

Série: discos da minha vida #31


Bend Sinister The Fall

Série: discos da minha vida #30


Forever Breathes the Lonely Word Felt

I know a dead parrot when I see one, and I'm looking at one right now.

Por estes dias, no pais dos matraquilhos, a comoção veio com o frio, surfando sobre um vento do Pólo Norte. Brrr.... As televisões abrem com a notícia choque: vai estar frio. É verdade: estamos no Inverno e, pasme-se o leitor, o frio vem aí. Factos? Prevêem-se temperaturas baixas nas «terras altas» e no interior norte. Mas tipo quê: -20º, -15º? Sim, estão previstos -10º para uma «certa e determinada» zona do país, durante um «certo e determinado» intervalo de horas (à nôte), embora, regra geral, tudo indica que a coisa ande perto dos zeros graus (mais grau, menos grau). «Situação» claramente inédita, claro. As televisões enviam repórteres para os pontos nevrálgicos da «situação». Durante longos minutos, os repórteres dão conta de que está frio. O Sr. Antunes, motorista da camioneta Iveco da paróquia de São Murrufenha, já percorre as estradas do país salgando o macadame. Ainda na televisão, um senhor ligado às coisas da saúde, educa as massas: agasalhem-se bem, usem calçado quentinho, evitem o frio, sorvam umas sopinhas febris. O povo, que andava p'raí em t-shirt e de sandália, agradece.

Eu, verdade seja dita, começo a questionar-me: estarei vivo ou serei apenas um figurante de um episódio do Flying Circus que teima em não acabar?

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Série: discos da minha vida #29


LC Durutti Column

Série: discos da minha vida #28


Getz/Gilberto Stan Getz & João Gilberto

Série: discos da minha vida #27


Down Colorful Hill Red House Painters

Uma opinião

Esta Lei Eleitoral Deve Ir para o Lixo
por Maria Filomena Mónica
in Público, Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2005
"Politica, filosófica e temperamentalmente, sou centralizadora. Num caso, todavia, o da lei eleitoral, a minha posição altera-se. Porque diante da urna, ninguém, melhor do que o próprio, sabe o que lhe convém. Há anos que os grandes partidos, com destaque para o PS, têm vindo a prometer a reforma da lei eleitoral, mas, chegado o momento, retraem-se. Em 2001, ainda ouvi alguns socialistas falar destes planos. Foi o que se viu. Hoje, penso que será necessário um maremoto político para que algo aconteça.

A regra da proporcionalidade, a interdição de candidatos independentes, a existência de grandes círculos, a confecção de listas pelos secretários-gerais - tudo coisas infelizmente inscritas na Constituição - têm de terminar. Nada e criada num país em que a política era vista como uma actividade nojenta - com o argumento de que o dr. Salazar, que sabia o que queria e para onde ia, se dedicava a administrar a Nação - o ataque ao actual sistema parecia-me inoportuno. O escrúpulo não tem razão de ser. Aliás, o facto de a maioria das pessoas da minha idade não estarem dispostas a denunciar o status quo faz com que os jovens, nascidos depois de 1974, tendam a afastar-se da participação num regime que consideram oligárquico, acéfalo e corrupto.

Não são apenas os jovens que estão zangados. Os pais tão pouco vêem interesse em sair de casa, a fim de escolher entre as centenas de desconhecidos que os líderes incluíram nas listas, remunerando com um "tacho" os servos que exibiram a sua obediência. O desencanto com o regime cresce. Em 1975, um momento, reconheço-o, excepcional, a abstenção foi de oito por cento. Nos anos 1980, mais de quatro quintos dos portugueses ainda ia votar. Nas últimas eleições, a taxa de abstenção foi já de 39 por cento. Sei que, por toda a Europa, algo de semelhante se está a passar, mas não a esta velocidade: Portugal possui o recorde do aumento na taxa de crescimento da abstenção.

Ao falarmos de leis eleitorais, estamos a tocar em duas questões: quem pode votar e como se vota. A primeira está resolvida desde 1974, o momento em que, pela primeira vez, se pode falar, com rigor, da instauração do sufrágio universal. O problema central reside hoje na forma como se vota. Com receio de que o norte se inclinasse para a reacção e que o sul ficasse vermelho, os constituintes optaram por uma lei - baseada em grandes círculos eleitorais e em listas confeccionadas pelas cúpulas partidárias - que retira poder ao eleitor. Ora, eu não desejo delegar no eng. Sócrates a possibilidade de escolher quem me representa no Parlamento. Quero ter o "meu" deputado, a quem possa apresentar as minhas queixas e, caso pense que ele nada fez de notável, mandar para casa na eleição subsequente.

Infelizmente, a maioria dos Professores de Direito Constitucional considera ser este o menos mau dos sistemas. Há mesmo quem defenda que sempre assim se votou em Portugal. Deixo de lado o caso do Estado Novo, durante o qual havia eleições, mas não liberdades, e o da I República, em que as eleições eram de tal forma viciadas que a abstenção acabou, em 1925, por chegar aos 86 por cento. A Monarquia Constitucional, ou seja o regime que surgiu após a Revolução de 1820, experimentou diversos sistemas eleitorais. Vale a pena relembrar alguns. Durante a primeira metade de oitocentos, votava-se de forma indirecta, ou seja, os eleitores - apenas aqueles que tinham um certo nível de rendimentos - votavam num senhor, o notável, o qual, em seguida, votava num deputado. Isto deu lugar a grandes polémicas, as quais só terminaram quando o governo decretou, em 1851, o chamado "Acto Adicional" à Carta, que consagrou as eleições directas.

Não é aqui o local para apresentar uma enumeração exaustiva das leis eleitorais da Monarquia. Quero tão só chamar a atenção para a importância da lei de 1859, que consagrou os chamados círculos uninominais. Em vez de grandes unidades geográficas, permeáveis à vontade do centro, passaram a existir pequenos círculos, apenas com um deputado, o que dava algum poder - por mínimo que fosse - aos camponeses que, por esse país fora, iam votar. Tudo se tornou mais claro quando, em 1878, Fontes Pereira de Melo - o homem que, em 1859, sob pressão do rei D. Pedro V, reformara o sistema - resolveu dar o voto a todos os portugueses. É verdade que estes eram pobres, analfabetos e rudes, mas, em conjunto, as duas leis deram-lhes mais influência do que a que tinham tido ou do que a que passariam a ter, quando, em 1884, 1895 e 1901, as leis de novo foram alteradas. Sei que existem argumentos - enfadonhamente apresentados ao longo dos anos - contra os chamados "políticos de campanário", mas não me convencem.

Em Portugal, todas as reformas surgem sempre de cima. Num país em que a primeira Constituição foi "outorgada", isto é, oferecida, por um monarca ausente (D. Pedro IV), num país em que a melhor lei eleitoral, a de 1859, foi imposta por um rei "entrangeirado" (D. Pedro V), num país em que as mudanças de regime surgiram sempre através de golpes militares, não temos motivo para esperar que a reforma eleitoral se venha a realizar de forma pacífica. Nem que os futuros governantes sejam melhores do que os de hoje.

Vigorava ainda o II Reich na Alemanha quando um sociólogo alemão, Max Weber, se dedicou a reflectir sobre a melhor forma de se conseguirem governos eficazes. A democracia não o interessava particularmente. Segundo ele, a principal vantagem do sufrágio universal consistia na capacidade de gerar chefes políticos mais eficientes do que as cliques que se reclamavam dos favores do Kaiser. Hoje, o problema é outro. Só a reforma da lei eleitoral permitirá melhorar a classe dirigente. É por isso que os políticos actuais resistem à mudança. Ninguém gosta de competição, muito menos quem sabe que vai perder."

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Paterson, Don 3/3

"The only thing that will shock us about death will be its familiarity."

Paterson, Don 2/3

"In all art, the function of the ego is to drive you to the gig, then keep the van ticking over while you perform without it. Those who fail to do so are easy to identify: they all shake."

Paterson, Don 1/3

"At the extremes of sexual behaviour, the difference in the projects is still apparent: men are frequently trying to bludgeon themselves into insensibility, women trying to bludgeon themselves into feeling something."

Série: discos da minha vida #26


Ella Fitzgerald Sings The Cole Porter Songbook

Série: discos da minha vida #25


Play Kurt Weill The Young Gods

Série: discos da minha vida #24


Grace Jeff Buckley

É um insulto é...

(corrigido e actualizado)
Diz o Luis que insultei, provavelmente o mundo, ao ter escrito: “...a própria autonomia de facto de que gozou, e goza, a Autoridade Palestiniana sobre um território que, não sendo um Estado, só não administra se não quiser.”

É óbvio que não pretendi equiparar a Palestina a um Estado e, com isso, fazer a equivalência de «autonomias». Concedam-me algum crédito, por favor. A Palestina nunca foi um país ou um Estado. E, infelizmente, ainda não é. Fazer crer que a Autoridade Palestiniana (AP) tem pouca ou nenhuma autonomia ou poder para administrar o «seu» território – dentro das restrições inerentes à sua própria condição de não-estado – parece-me, também, um insulto. Ao longo das últimas duas décadas, Israel tem vindo a alargar o âmbito dessa autonomia. O Luis utiliza uma retórica que já conhecemos: “Que autonomia tem a AP para evitar ou processar nos seus próprios tribunais esse roubo [de terras]?” É precisamente o mesmo tipo de argumento utilizado para justificar o deficiente controlo da AP sobre as organizações terroristas, e a forma «para inglês ver» como se julgam e condenam os terroristas.

Pergunta-se: onde estão os milhões de dólares que a AP recebeu ao longo destes anos? Quanto desse dinheiro foi investido em infra-estruturas que concorressem para o desenvolvimento sustentado do território, em prol das populações? Há coisa de um ano, assisti a uma reportagem na qual se entrevistava um nadador palestiniano que se queixava de não ter instalações condignas para a prática da modalidade. Culpa de quem? Mr Sharon, obviamente. Eu pergunto: porquê? O que impediu a AP de investir na construção de um complexo desportivo ou, pelo menos, de uma piscina decente? Num Prós e Contras (RTP) recente, um especialista em recursos hídricos louvava Israel por ser o pais mais avançado nessa área (prospecção, recolha e tratamento de água para consumo doméstico e fins agrícolas) para, logo a seguir, lamentar o facto de Israel «controlar» o abastecimento de água (leia-se «fechar as torneiras») nos «territórios ocupados». O que esse especialista se esqueceu de dizer é que: a) foi graças à investigação e ao trabalho israelitas que palestinianos e israelitas não morrem à sede (não foi, certamente, graças ao trabalho e aos esforços palestinianos); e b) os constrangimentos aplicados à utilização de água derivam, sobretudo, do racionamento imposto às populações por razões bem mais prementes: as sucessivas secas que se abateram sobre a região (finais dos anos 70, princípios dos anos 80 e inicio dos anos 90) e a problemática da salinação nos lençóis freáticos. Não será, caro Luís, que boa parte destes handicaps que parecem estorvar a vida dos palestinianos estão directamente relacionados com o facto das autoridades palestinianas terem escolhido a «luta» contra o jugo «sionista» e a questão da terra como a mãe de todas as prioridades? Não estarão, também, ligados ao sorvedouro que significa alimentar toda uma oligarquia corrupta que tomou conta da AP? Não haverá vida na Palestina – economia, agricultura, ensino, população civil - para além da lufa-lufa e da guerrinha de nervos nas faixas de território contíguas a Israel?

É verdade, e aí posso concordar contigo, que os palestinianos não têm a vida facilitada. À conta de defender o seu país, Israel tem imposto condicionalismos por vezes atrozes. Fá-lo-á gratuitamente? Só por má-fé ou ignorância se pode afirmar que sim. A responsabilidade da situação pende, também, sobre o lado palestiniano: a estratégia palestiniana foi, até hoje, uma estratégia vazia de sentido e recheada de erros. Basta lembrar que em 1937 (Comissão Peel), em 1939 (British White Paper), em 1947 (com a ONU), em 1979 (negociações Israelo-egípcias), a partir de 1993 (Oslo) e em 2000 (Camp David), os palestinianos recusaram qualquer acordo, ora de forma peremptória ora impondo condições inexequíveis. Basta lembrar que os primeiros ataques organizados por Arafat contra Israel, em 1964, foram executados numa altura em que a totalidade da Cisjordânia, de Gaza e da cidade velha de Jerusalém estavam sob controlo árabe. Não havia sombra de settlers ou squatters (escolhe a expressão que quiseres).

Sem desvalorizar as acções e as medidas tomadas pelo governo de Israel, já vai sendo tempo da dita «opinião pública» global responsabilizar o lado palestiniano pelos erros cometidos e pela inépcia demonstrada, exigindo seriedade, ponderação e coragem aos responsáveis palestinianos. Seria um serviço inestimável à «causa».

RAP 2

Escreve o Ricardo de Araújo Pereira:

“[N]inguém pergunta a Maria porque é que Deus, do alto da sua infinita bondade, dedicou a época natalícia a fazer umas brincadeiras no mar do sudoeste asiático e a matar 60 mil desgraçados.”

Ultima actualização: mais de 200 mil. Para responder a esta inquietação nunca colocada à doce Maria, recorro a Paul Johnson. Ele explica tudo. RAP: toma nota.

“(…) The notion, put forward by the Darwinian Central Committee, that the Indian Ocean disaster should persuade us to turn our intellectual backs on a God-directed universe, seems to be puerile. Why did God kill so many people? But God kills people all the time, millions every day. For that matter, God creates people, millions every day. The big waves killed no more than the Lisbon earthquake, and a much smaller percentage of the total population than in 1755. Against a total of 150,000 or so, we have to remember that four billion have been added to the number of people in the world during the last 70 years. That 150,000 is only the tiniest ephemeral blip on the world’s demographic radar. Sri Lanka, which suffered heavily, has a population of 20 million; 11 million will be added to it by 2050. Sumatra, another chief victim, will double its population by that date. Despite the losses, there are already considerably more people in the world today than there were in Christmas week. We are asked to draw transcendental conclusions from this event because of its scale. But the scale, in terms of the magnitude of the world and its inhabitants, is puny, almost insignificant.
It is worth pointing out that this catastrophe was a real event but also a media event on a grand scale. If it had occurred in 1755 it would have been virtually unheard of in Europe, and not at all in America. In 1755 the European media, such as it was, could just about take cognisance of what happened in its own continent; that is all. The Great Awakening then taking place in the American colonies was not interested in Lisbon, so it was ignored in the countless sermons then preached in the camp gatherings.
The true theological or philosophical point to be made about the Indian Ocean wave — if, indeed, there is one — is that it is a timely reminder of the fragility of our existence in this world, the ease with which life on a sunny holiday beach can be snuffed out in a few torrential seconds, and the awesome power which nature still wields, and will always wield, in a world where science and engineering make such boastful strides in subduing her. And any reminder of the ultimate and total powerlessness of human beings, made always necessary by our arrogance and boasting, must be an act of God, and a very sensible and benevolent one too. It can also be argued — and this is what our bishops, if they had any sense, would be arguing — that such events make us think about transience and death, and our own preparedness for our extinction and the life to come. So the calamity — so distressing for those individually involved — was for humanity as a whole a profoundly moral occurrence, and an act of God performed for our benefit.”

Série: discos da minha vida #23


Blood and Chocolate Elvis Costello

Série: discos da minha vida #22


Meat Is Murder The Smiths

Série: discos da minha vida #21


Dummy Portishead

quarta-feira, janeiro 19, 2005

RAP 1

Chover no molhado: sem desprimor para os restantes fedorentos, Ricardo de Araújo Pereira (Ricardo Pereira para a Dra. Fátima Campos Ferreira) é o melhor humorista português de há muitos anos a esta parte. Ponto final. Digo “humorista” porque o Ricardo está muito para além do estereótipo do comediante que, directamente do basfond da seita, surge para dizer umas chalaçazinhas, fazer umas palhaçadas e uivar de quatro. O Ricardo tem uma graça que é second nature. Não é pose, nem número. É genuína ou, como se costuma dizer por terras do Alentejo, “está-lhe na massa do sangue”. E, sublime vantagem, sem gritos, alaridos, sorrisos rasgados e cabotinismo à mistura. Talvez a grande diferença esteja no facto de o Ricardo ser um excelente “observador de caracóis”. Roubo o título ao livro de Patrícia Highsmith, mas os “caracóis” aqui somos nós (incluindo o Ricardo) mais as nossas ridicularias, absurdidades e parvoeiras. O barro que o Ricardo molda para seu e nosso prazer (imagem pirosa, eu sei), é constituído pelos nossos maneirismos, na forma como nos comportamos, pavoneamos, dizemos ou escrevemos umas patetices pegadas com o ar mais sério do mundo, na longa tradição familiar dos Franciscos Espertos, fonte inesgotável para quem tem talento. Que é o caso do Ricardo. Mais ainda porque o seu humor reflecte uma mistura equilibrada e «inteligente» de nonsense e ironia, aliada a uma notória fruição em se troçar do próprio umbigo. O pequeno texto que, agora, reproduzo, fala por si. Eu calo-me já.

DESCONTO DE NATAL
por Ricardo de Araújo Pereira
“Passou despercebido mais um belíssimo conto de Natal de João César das Neves, no Diário de Notícias de anteontem. Desta vez, o economista beato conta-nos a história de Maria, uma jovem cristã, e dos seus três amigos: o Fernando, que é ateu, a Cláudia, que é budista e o Ibrahim, que é muçulmano. Reside aqui, para mim, o primeiro golpe de génio de César das Neves: há mais raças e credos no grupo de amigos da Maria do que na ONU. “Temos parábola”, pensa o leitor, entusiasmado – e tem razão. “Tu queres ver que, no final, vamos descobrir que o cristianismo é superior às outras religiões?”, pergunta novamente o leitor – e volta a ter razão. Apelo agora ao leitor para que se cale, porque tenho coisas para dizer. A primeira é que o início do conto desilude: Maria aproxima-se dos amigos, que estão numa mesa da cantina da faculdade, e diz-lhes que descobriu uma coisa “hoje de manhã, no duche”. Todos sabemos que a única coisa literariamente interessante que uma jovem rapariga pode descobrir no duche é o seu próprio clítoris (a propósito: clítoris ou clitóris? Que diferença faz? Esdrúxulo ou grave, é igualmente difícil de encontrar...). Calculem o meu desapontamento quando constato que aquilo que Maria descobre no duche é o seguinte: “(...) os infiéis, mesmo sendo infiéis, são muito mais felizes no reino de Cristo do que julgam vir a ser nas suas crenças.” Segue-se uma conversa aborrecida sobre religião, em que aproveitamos para imaginar quão melhor seria o conto se Maria tivesse, de facto, descoberto o clítoris. Surpreendentemente, ninguém pergunta a Maria porque é que Deus, do alto da sua infinita bondade, dedicou a época natalícia a fazer umas brincadeiras no mar do sudoeste asiático e a matar 60 mil desgraçados. Apesar de tudo, no final, diz Ibrahim: “E se a gente se deixasse de conversas e se agarrasse à Matemática? Os testes são logo a seguir ao Ano Novo e, se não marrarmos agora, não há espírito de Natal que nos salve.” É a primeira coisa sensata que alguém diz no conto inteiro – e é proferida pelo muçulmano. E depois a cultura ocidental é que é superior.”

terça-feira, janeiro 18, 2005

Série: discos da minha vida #20


George Best Wedding Present

Série: discos da minha vida #19


You Must Believe In Spring Bill Evans

Série: discos da minha vida #18


Liberty Belle And The Black Diamond Express The Go-Betweens

Série: discos da minha vida #17


Hats Blue Nile

Série: discos da minha vida #16


Blue Lines Massive Attack

Série: discos da minha vida #15


Bodily Functions Herbert

Série: discos da minha vida #14


Three Feet High And Rising De La Soul

Série: discos da minha vida #13


Nekonotopia Nekonomania Seigen Ono

Série: discos da minha vida #12


Violent Femmes The Violent Femmes

Série: discos da minha vida #11


Rum Sodomy and the Lash The Pogues

Série: discos da minha vida #10


Rattlesnakes Lloyd Cole & The Commotions

Série: discos da minha vida #9


Duke Ellington and John Coltrane Duke Ellington & John Coltrane

Série: discos da minha vida #8


Nighthawks At The Diner Tom Waits

Série: discos da minha vida #7


Drum Hugo Largo

Série: discos da minha vida #6


From Gardens Where We Feel Secure Virginia Astley

Série: discos da minha vida #5


The Smiths The Smiths

Série: discos da minha vida #4


Unknown Pleasures Joy Division

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Série: discos da minha vida #3


Angel Tiger, June Tabor

sábado, janeiro 15, 2005

Série: discos da minha vida #2


Kind of Blue, Miles Davis

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Cartoon


(via Blasfémias, cortesia Filibuster)

I Won't Grow Up

Ó minha querida Desassosarassegada! (sempre quis escrever isto): a menina é e será sempre «muito cá de casa». Não ligue aos prémios. Fuck’em. Interessante é saber, por exemplo, se fazemos o pleno, em matéria de discos. Para já, sim. Las Vegas espera-nos.

I won’t grow up
I won't grow up
I don't wanna go to school
Just to learn to be a puppet
And recite a silly rule

If growing up means it would be
Beneath my dignity to climb a tree
I won't grow up, won't grow up, won't grow up
Not me.

I won't grow up
I don't wanna wear a tie
Or a serious expression
In the middle of July

And if it means that I must prepare
To shoulder burdens with a worried air
I'll never grow up, won't grow up, never grow up
So there

Never gonna be a man
I won't!
Like to see somebody try
And make me!
Anyone who wants to try
And make me turn into a man
Catch me if you can

I won't grow up
I don't wanna wear a tie
Or a serious expression
To try to act just like a guy

'Cause growing up's awfuller than
All of the awful things that's ever been
I won't grow up, won't grow up, won't grow up
Again

Growing up's awfuller than
All of the awful thing that's ever been
I won't grow up, never grow up, won't grow up
Again.
Not me.
Not I.


Olha, olha…

Via Technorati descubro que o Quero Roubar Carteiras lançou ontem igual série (discos da nossa vidinha). Pura coincidência. Desconhecia a existência do dito. Sei, agora, que é amigo do excelso Tiago. Caramba, vou estar atento!

Sério candidato a livro do ano

"The most efficient lies take only two forms: the truth in all but one detail, or a complete unthruth. Anything between is amateurism: you are making that fatal mistake of enjoying yourself."


The Book Of Shadows, Don Paterson (Picador 2004)

"We read according to an undeclared handicap system, to the specific needs of the author. We meet the novelists a little way, the poets at least halfway, the translated poets three-quarters of the way; the Postmoderns we pick up at the station in their wheelchairs."

The Book of Shadows reúne um conjunto de reflexões e aforismos de Don Paterson – poeta, músico, editor e professor na University of St. Andrews – sobre o amor, Deus, arte, sexo, morte, trabalho, etc. Paterson consegue o pleno: uma mistura absolutamente arrebatadora de inteligência, seriedade intelectual e humor negro, trespassado por um romantismo sarcástico e, ao mesmo tempo, lírico. Premium Food for Thought. Um grande livro de um autor que já arrecadou um Whitebread Poetry Award e um T. S. Eliot Prize. Vive na Escócia.

"There were times, moving slowly inside her in the dark, when I would pause, and realize I was not there. Only the movement again restored some flicker of allegiance to the here-and-now from which we had all but been exempted."

"Any vice or virtue, sufficiently cultivated, will eventually simplify a character into subhumanity. The saints are as incomprehensible to us as the monsters."

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