O MacGuffin

segunda-feira, agosto 30, 2004

ACOSTAGEM ABORTADA
(corrigido)
JMF concorda com a acostagem do BdA (“Barco do Aborto”). E, afirma, só mesmo os “distraídos” não entendem a forma como, supostamente, o governo anda a inverter prioridades. Pois. No que respeita à “inversão de prioridades”, deve ser do mesmo tipo da praticada por certos partidos, políticos e aspirantes a políticos, cuja agenda, na busca de assuntos ideologicamente «fracturantes», revela um enorme deserto de ideias relativamente às questões mais prementes que afectam o dia-a-dia dos portugueses.

Sobre o BdA, reafirmo o que já escrevi: é um acto de propaganda inconsequente, desnecessário e, como manobra política, um pouco ridículo. Não vai resolver absolutamente nada. Alimentará, apenas, o barulho dos extremistas, de ambos os lados. Não concorrerá para algum tipo de consenso. Representa uma provocação à autoridade de um Estado de Direito e levanta algumas dúvidas do ponto de vista de saúde pública. Resta-me uma dúvida: o Terras do Nunca e o Barnabé terão capacidade para compreender e respeitar que pode ser-se contra o BdA e a favor da despenalização?

Transcrevo duas passagens do notável artigo de Zita Seabra, no Público, sobre o assunto:

“Alguma esquerda, na falta de melhores bandeiras (proletariado já quase não há e a realidade laboral nas empresas ou na agricultura é radicalmente diferente da anterior) serve-se do aborto como de uma importante trincheira que resiste. Assistimos ciclicamente a lutas internas, a declarações e promessas de candidatos a secretários-gerais, de dirigentes partidários falando do aborto como se fosse a principal questão para avaliar da fidelidade à esquerda de um dirigente. E aqui está o aborto transformado em potencial direito cívico. Ou até em manobra de diversão como é o caso da vinda do barco holandês. Passa pela cabeça de alguém imaginar que alguma mulher, mais ou menos jovem, com mais ou menos dificuldades económicas, se dirige a um barco que é exibido de forma ostensiva e degradante nas televisões e lá entra para fazer um aborto em alto mar? Evidentemente que não.
Tanto mais que Portugal tem desde 1985 uma lei aprovada que foi, podemos dizê-lo sem medo, referendada há três anos pelos portugueses."

“A política de um Estado democrático deve ter como objectivo impedir que alguém recorra ao aborto por absoluto desconhecimento de alternativas, por desinformação, ou por uma tradição rural radicada nos desmanchos que as avós faziam.
Eis, porém, que alguns, na ausência de bandeiras de luta, de reivindicações mobilizadoras tiram da cartola o aborto como se tratasse de um pilar demarcador entre direita e esquerda, gerando dois tipos de reacção."

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