O MacGuffin

quinta-feira, julho 01, 2004

CALMA. MUITA CALMA.
(actualizado)
Meti-me com o «mundo da bola» e recebo duas admoestações no espaço de uma hora. Uma do John Difool:

”Porra, Mac, o "Figo: safou-se"? O Figo fez um jogo "absurdo", pá. Três arrancadas do meio campo até à linha de fundo na primeira parte que teriam acabado com qualquer veterano antes dos trinta minutos, uma jogada magistral que levou a bola ao poste, poucos passes falhadas, poucas bolas perdidas e, acima de tudo, a garra de um gajo que, aos 32 anos, com uma carreira brilhante, nome de fundação, muitos milhões e uma loira na cama, parece que ainda tem tudo para provar. Cascar no Figo é moda desde o Mundial de 2002, mas o gajo continua a ser, de longe, o nosso melhor jogador. E não falo só do jogo de ontem. O Figo tem sido, a par do Ricardo Carvalho, o jogador mais regular (até no jogo contra a Grécia jogou bem).”

outra de Jorge Bento:

”Eu de futebol também percebo pouco, mas olhe que o Figo ontem “safou-se” muito bem , pois foi considerado o melhor em campo pela UEFA , pelo que jogou, fez jogar, rematou etc.
PS: Para mim a grande final foi contra a Inglaterra , pela emoção e incerteza até ao fim. Os jogos de ontem e de domingo é só para preencher calendário. A Taça é nossa.


Ambas pelo mesmo motivo: o facto de ter escrito “O Figo safou-se”.

Sim, o Figo safou-se. Com isto não quis desvalorizar ou menosprezar o seu papel no jogo de ontem. “O Figo safou-se” não foi a forma por mim encontrada para nele «cascar», como parece ser agora moda em certos meios. Figo fez, ontem, um bom jogo. Ok, vá lá, um muito bom jogo. Mas se tivesse de eleger o melhor jogador em campo, elegeria outro(s). E o facto de ter sido eleito oficialmente o homem do jogo, em nada influência a minha posição.

Figo foi e é um grande jogador. Adquiriu, perante a «tribo do futebol» – o povo, alguns intelectuais, os plumitivos do meio e um poeta - um estatuto único. Em abono da verdade, por mérito próprio. Figo não foi um "bom jogador" fabricado pela imprensa ou pelo star system (como é o caso de Beckham). O seu trabalho, a sua garra e o seu génio fizeram-se notar inequívoca e objectivamente. À flor da sua pele. Na minha memória está a sua carreira no Barça e os dois primeiros anos no Real. Digo-o sem margem para quaisquer dúvidas: Figo foi, durante anos, um dos melhores jogadores do mundo.

Mas Figo já não é o que era. O que é perfeitamente natural, normal, etc. É a PDI. É a «ordem natural da vida». Os anos pesam e, em excelentes jogadores, ainda pesam mais. Apesar de continuar a ser um «incontornável», temos assistido a um Figo que tem tentado, acima de tudo, adaptar-se à sua actual forma. O seu estilo e o seu modus operandi mudaram. Figo sabe que tem, hoje em dia, contra si, vários handicaps. Continua a ser um jogador seguro. Continua a ser um jogador difícil de desarmar. Continua a ter uma boa «visão de jogo». Mas basta reparar no número de pseudo-faltas por ele reclamadas ou na forma como ele não arrisca o drible, a finta e a corrida, para perceber que ele já se encosta a certo tipo de subterfúgios e evasivas. Já para não falar nos remates frouxos e nas assistências falhadas. Tirando o jogo de ontem, foram raros os momentos em que Figo, neste campeonato, driblou e fintou em clara vantagem ou com aquela iminência de perigo que o caracterizavam.

Para que não haja dúvidas, repito: Figo continua a ser um excelente jogador e, ontem, esforçou-se para o demonstrar. Talvez picado por ter sido chamado à pedra pela birrinha no jogo anterior, Figo excedeu-se no jogo de ontem. Mas este pontual descomedimento demonstra tudo o que disse: foi uma excepção. O Figo “Euro 2004” esteve uns furos abaixo do Figo de outros tempos. Há que compreender e aceitar isso. Nessa medida, eu digo: ontem Figo safou-se ("muito bem", se quiserem). Foi o seu melhor jogo, neste campeonato. Mas Figo é um jogador que já está a gerir a sua própria decadência. Isso, meus amigos, nota-se à distância. De um sofá a um televisor.

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