O MacGuffin

terça-feira, abril 20, 2004

OPINIÃO PÚBLICA
Escreve o Paulo, n’ O Acidental:

“Acabo de ouvir uma bancária de 65 anos no Opinião Pública da SIC a solidarizar-se com o gesto de Zapatero ao mandar retirar as tropas espanholas do Iraque. A senhora, julgo que se chamava Cecília, acrescentava: "posso prever que a Europa se vai superiorizar aos Estados Unidos". Fiquei mais descansado quando, poucos segundos depois, a dona Cecília informava que já tinha visto uma nave espacial e que nós não estamos cá sozinhos.
Mais descansado fiquei com o resultado final da "sondagem" do Opinião Pública: 56 por cento consideram que a deserção de Zapatero foi uma cedência aos terroristas, enquanto 44 por cento dizem que não foi. OK, afinal nem todos andam a ver extraterrestres.”


John Lukacs, de quem ando a ler um delicioso e absolutamente obrigatório “Five Days in London, May 1940” (Yale University Press, 2001), alerta precisamente para a diferença entre “opinião pública” e “sentimento popular”. Escreve Lukacs: “aquilo que é publico não é necessariamente popular, e opinião não é necessariamente a mesma coisa que sentimento. Há muitos exemplos na história, e não menos na história das democracias, em que a opinião pública e o sentimento popular não só são diferentes como frequentemente divergem. No Sec. XIX, a opinião pública era a opinião das classes média e alta, apesar de gradualmente a classe operária se ter tornado uma leitora de jornais e ter passado a votar.” Querem melhor exemplo do que o caso Howard Dean na corrida à candidatura democrata para as eleições norte-americanas?

Outra diferença, escreve Lukacs, é entre conhecimento e compreensão. De acordo com a lógica, a compreensão é não só o resultado do conhecimento, como o seu corolário. Mas, como dizia Pascal, “nós compreendemos mais do que sabemos”. Existem muitos casos em que a compreensão precede o conhecimento. Mais: é a compreensão que conduz ao conhecimento. Lukacs dá como exemplo o período de Maio de 1940, na Grã-Bretanha. Muitos britânicos entendiam e compreendiam coisas sobre as quais não tinham conhecimento (Rumsfeld, anyone?). Ou compreendiam coisas sobre as quais nem sequer queriam pensar, apesar de terem capacidade para o fazer.

Seja como for, e ao contrário do que por aí se apregoa, isto da «opinião pública» não é assim tão certo, e mal vai o político que navegue ao sabor da dita.

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