O MacGuffin

terça-feira, janeiro 06, 2004

POR AQUI AINDA SE RESUME 2003

a
ADM (Armas de Destruição em Massa)
Ler Impasses de Fernando Gil, Paulo Tunhas e Danièle Cohn (Europa-América 2003). E ver 'Cartoon'

Amaral, Freitas do
Quem é Freitas do Amaral?

Anti-semitismo
Em França, no início do ano de 2001, o mote havia sido dado em pouco mais de três meses: cerca de 300 «interesses» judeus (casas de habitação, sinagogas, autocarros escolares, etc.) foram alvo de ataques. Em 2003, a coisa foi em todo semelhante: de Marselha a Paris, foram vários os ataques e as ameaças perpetrados contra judeus. Factos: a) cerca de seis milhões de árabes vivem em França, «contra« apenas 650 mil judeus; b) existe uma dinâmica propaganda anti-semita no seio das comunidades muçulmanas (a venda dos Protocolos e do Mein Kampf continua em alta); c) os excessos de Sharon (olhado como “o carrasco”) recebem uma amplificação em nada comparável com os excessos do outro lado (olhado como o das "vitimas”); d) o perigoso Sr. Bush tentou meter a sua marca com um «roadmap», acompanhado de um tremendo esforço, por parte de certos sectores da opinião pública, em descredibilizá-lo. Juntem estes elementos e talvez se perceba o recrudescimento larvar do velho anti-semitismo. Particularidade: esta «nova» forma de anti-semitismo (que uns apelidam eufemisticamente de anti-sionismo) surge agora, sobretudo, do lado da esquerda - mais precisamente de um néo-gauchisme cuja natureza incluí elementos de radicalismo. É claro que, à esquerda, meia dúzia de bons espíritos se esforçaram por dizer que não, que não era nada assim, que o anti-semitismo não tinha cor política, etc. Como se, em suma, pudessem falar por todos.
A opinião pública, por seu lado, também não se comove nem se deixa enganar: maioritariamente ignorante (para quem o problema judeu tem 60 anos de antiguidade), sempre pronta a seguir os que putativamente lutam pelos «mais fracos» contra os «mais fortes» (atente-se na forma como aceitaram a equivalência entre o Maus do Spiegelman e o Palestina do Sacco, onde os israelitas são agora os novos nazis), achando que o Estado de Israel foi um erro histórico (ainda emendável...), e que, por via do Sr. Sharon, os judeus estão a «pôr-se a jeito», a opinião pública considera estas manifestações de violência contra os judeus perfeitamente previsíveis e compreensíveis, face aquele que é a maior ameaça à paz mundial: o estado de Israel.
Miguel Sousa Tavares explicou tudo, em artigo de opinião no Público. Pela cagagésima vez, Tavares explica e esclarece os ineptos e as criancinhas: Israel pretende “aplicar a «solução final»”, através (“desculpem lá”, escreve o espertíssimo Miguel) do “extermínio político, cívico e, se necessário, humano dos palestinianos”. É claro que, do lado dos «oprimidos» e das «vitimas» (os palestinianos), não existem dirigentes, não existem responsáveis, não existem líderes, não existe organização, propaganda, fundamentalismo, extremismo e irracionalidade. E, caso existam, serão todos justificáveis. No fundo, é a eterna luta entre um bando de desesperados face a um monstro chamado Israel. Ok, Miguel: em 2003 ficámos mais uma vez esclarecidos.

b
Barroso, Durão
Num ano tremendo, Durão Barroso aguentou-se de forma surpreendente. Contudo, esteve muito mal em dois casos. O primeiro, na defesa de um perdão a aplicar a reais e eventuais prevaricadores do PEC, ainda para mais estando em causa o comportamento de dois tubarões - França e Alemanha – por sinal os criadores e eternos defensores do agora decrépito pacto. Pelo meio, meia dúzia de iluminados fizeram das tripas coração para explicar que não havia a mais leve contradição entre essa posição medrosa e complacente e o ataque justo anteriormente levado a cabo por Durão ao laxismo e às meias-tintas do governo do Eng. Guterres. Pois...
O segundo, quando decidiu estar presente na sumptuosa festa de casamento da filha de Eduardo dos Santos. Durão Barroso deveria saber que o “em nome pessoal” não funciona nestes casos. Um primeiro-ministro não despe a farda com essa facilidade. Durão Barroso deveria ter recusado, de forma discreta, o convite. Não estavam em causa interesses portugueses que justificassem o acto de vassalagem. Por uma vez os princípios deveriam ter falado mais alto. Entendamo-nos: é imoral estar numa festa daquele calibre num país onde a miséria, a fome, a pobreza e o sofrimento estão ali, ao virar da esquina. É imoral estar presente numa festa privada onde correm rios de champanhe e resmas de caviar por entre o brilho dos diamantes, quando, ali ao lado, uma população inteira continua a sofrer o estigma de viver sob o jugo de um governo e de um presidente que suga há décadas as riquezas do seu país para financiar o armamento e as mordomias da pesada oligarquia que «serve» Angola – incluindo o casamento dos filhos dos membros do «aparelho». Chamem-lhe demagogia, mas há coisas que têm de ser questionadas: a Durão Barroso não lhe terá ocorrido o simples facto de, por trás do muro que circunscrevia a festança, vegetar um povo inteiro?

Billy, Bonnie Prince
Bonnie Prince Billy, Palace Music, Palace Brothers, etc. etc.: tudo nos conduz a Will Oldham. Desta vez coube a Bonnie Prince Billy o feito de ter produzido um dos melhores discos de 2003: Master and Everyone.

Blogues
2003 assistiu ao crescimento exponencial do fenómeno da blogosfera. Centenas e centenas de blogues surgiram, que nem cogumelos. Incluindo este, inspirado pelo histórico e já reformado A Coluna Infame: a antiga casa de Pedro Mexia, Pedro Lomba e João Pereira Coutinho. As reacções ao fenómeno foram diversas. Houve quem tivesse desvalorizado o fenómeno, vaticinando um prazo de validade curto (dois ou três meses e a coisa desapareceria). Houve, também, quem o tivesse menosprezado e tentado ridicularizar (Pedro Rolo Duarte foi o timoneiro da corrente). Houve, ainda, quem o julgasse como um dos mais importantes e interessantes fenómenos dos últimos anos em matéria de «comunicação social», agora que os media tradicionais e ditos sérios haviam esgotado a sua «mensagem» (um manifesto exagero). Pela minha parte, juntava um pouquinho de tudo. A blogosfera é, sem dúvida, um fenómeno interessante. Que eu saiba – pelo menos é assim que a entendo – a blogosfera não surgiu para arrebatar o que quer que seja ou como alternativa à comunicação social «tradicional». Cada blogue constitui uma espécie de diário inconsequente, transmissível ou não, sobre os mais diversos temas: política, amor, literatura, futebol, cinema, suinicultura, etc. É, também, um espaço de comunhão, de afectos, de ódios, de humor e de muita, muita vaidade. É um meio de comunicação efémero: não sendo palpável, como o são as folhas de um livro, jornal ou revista, nem um recorte se pode guardar (e raras são as pessoas que se dão ao trabalha do copy-pastar este ou aquele texto). Vai tudo ficando para trás, por entre links e links de arquivo, que nunca mais será lido. A sua credibilidade depende exclusivamente da vontade de quem por lá navega (não têm a «rede» de pertencerem a um «grupo editorial» e, na sua esmagadora maioria, os seus autores ou são anónimos de circunstância ou são anónimos de facto). Como dizem os políticos, em relação às sondagens, um blogue “vale o que vale” (embora haja uns que sejam valiosíssimos). Mas há uma característica que importa referir e que constitui a sua maior valia: um blogue é um espaço de liberdade. E, como nos diz a canção: they can’t take that away from me.

Bush, George W.
George W. Bush foi a melhor coisa que aconteceu à esquerda, em geral, e à sofisticada intelligentsia ocidental, em particular. E, em 2003, surgiu a cereja no topo do bolo: o homem começou uma guerra. Bush Jr. reúne todos os atributos exigíveis para a apreciada zombaria dos doutos e esclarecidos: texano simplório de olhar símio; nunca terá lido Platão, Rousseau ou Saussure; não percebe nada de geografia; não toca saxofone; tem o ridículo hábito de usar cintos com o emblema dos EUA e botas de cowboy; orador nada eloquente; político da ‘direita religiosa’ (classificação que, em certos meios, encabeça o top-10 dos piores epítetos à face da terra). O protótipo perfeito que chegou para encher as medidas da empertigada e desdenhosa esquerda caviar e dos «indefectíveis da verdade». Uma execrável atracção circense. Um louco que insiste, vejam só, em recordar o 11 de Setembro. Eis, talvez, a única e grande vantagem de Bush face à empertigada e desdenhosa classe intelectual que adora contar anedotas do bicho: ao contrário dos seus mais directos opositores (do Dr. Miguel Sousa Tavares ao Dr. Soares, passando pelo Prof. Chomsky e pelo filantropo Soros) George W. Bush entendeu o 11 de Setembro do lado de quem sofreu um ataque soez e ignóbil. Ou seja, do lado das vitimas. Ao contrário dos seus mais directos e raivosos opositores, Bush Jr. sabe que o 11 de Setembro foi uma declaração de guerra e não quer esquecer que pereceram mais de três mil pessoas em poucos minutos. Sabe, também, que se perpetrou um ataque a um estilo e um modo de vida. Que é o nosso, por opção própria. Coisa que jamais os seus mais enfatuados opositores, do alto da sua tribuna alicerçada na hipocrisia e no cinismo, quererão perceber. Interessa, acima de tudo, bater no idiota.

c
Cartoon
Cartoon político do ano:



Cardoso, Miguel Esteves
O fim de ano reservou-nos uma agradável surpresa. O Blitz, na comemoração da sua milésima edição, relança o livro perdido de Miguel Esteves Cardoso Escrita Pop (Assirio & Alvim) e publica entrevista do mestre. Um grande abraço, Miguel.

Casamentos
Muitos. Destaco, contudo, um: o do Carlos e da Carla.

e
Estádios
Portugal está cheinho de novos estádios de futebol. Lindos, funcionais, modernos. Verdadeiras catedrais onde se exorcizarão fantasmas e se crucificarão entes outrora queridos. É a magia do futebol. O problema é só este: os novos estádios estão para o futebol nacional (observe-se o Louletano a jogar no estádio em Faro) e para o estado de desenvolvimento do país como um Porsche 911 Carrera Turbo está para o carro da minha mãe: um Opel Agila 1.2.

g
Gelb, Howe
Para os mais distraídos nestas andanças, por favor juntar o nome à lista de songwriters-a-seguir-com-todo-o-cuidado-e-devoção, onde, por esta altura, já deverão figurar Stephen Merritt, Will Oldham, Beck ou Mark Eitzel, entre outros. O Sr. Gelb ofereceu-nos em 2003 The Listener: treze memoráveis canções. Lou Reed and pascal Comelade meets Arizona solitude, podia ser o epíteto. Produção home-made, registo intimo com laivos folkianos, trabalhinho irrepreensível e simples. Pois é: um dos grandes discos de 2003.

Gomes, Ana
O PS ganhou uma nova porta voz para os assuntos externos e perdeu irremediavelmente a sua fácies de partido moderado em matéria de política internacional. A Dra. Ana Gomes foi uma espécie de elefante de voz estridente, entrando numa loja de cristais. Estaria melhor no Bloco.

h
Hussein, Saddam
O rato foi apanhado. O escroque foi capturado. Mas, pasme-se, houve quem tivesse ficado «melindrado» ou «incomodado» com a captura do homem. Coitado do moço, para ali esquecido, de barba por fazer, cheio de piolhos e obrigado a obrar à luz das estrelas. E que mal que o trataram, após a captura. Deus meu: um brutal e cruel exame médico!
A prisão de Saddam trouxe, por isso, um efeito lúdico. Se, por um lado, assistimos aos hilariantes e tristes comentários de certos plumitivos esquerdistas que não esconderam a sua revolta pela captura do carniceiro de Bagdad - aproveitando para arranjar novos argumentos para bater no grande Satã (protótipo: Fernando Rosas) - por outro lado, foram muitos os sorrisos amarelos, os artigos de opinião forçados e os 'posts' hipócritas. Lindo.

i
Iraque
Pensar que, por causa de uns alegados 10% das reservas mundiais de petróleo, os EUA encetaram uma guerra gastando, para o efeito, biliões de dólares, não pega. E não pega ainda mais porque a administração Bush afirmou que, uma vez estabilizada a situação, sairá do Iraque. O Iraque será dos iraquianos, incluindo o seu petróleo. As relações económicas entre os EUA e a administração iraquiana serão nulas? Obviamente que não. Os EUA esperam ganhar alguma coisa do ponto de vista económico? Obviamente que sim. So what? Business is business. O Iraque quererá vender a sua riqueza. Alguém a quererá comprar. É assim, desde há séculos. O depósito do meu carro, como o de biliões de cidadãos em todo o mundo, precisa de ser enchido. A francesa Elf não está no Iraque há décadas? Os sucessivos governos franceses não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para que a «sua» companhia singrasse por terras de Saddam? Não tenho dúvidas de que os EUA beneficiarão com o petróleo iraquiano. É claro que sim. Mas irão pagá-lo. Como pagam o proveniente da Arábia Saudita e do Kuwait. De uma vez por todas, deixemos de lado essa ideia fixa de vislumbrar, por todo o Iraque, um complexo sistema de pipelines, que servirá de bypass para sugar toda a riqueza do país directamente para o rancho do texano estúpido. É, por isso, redutor pensar que a intervenção norte-americana e inglesa no Iraque teve como móbil o petróleo. Questões bem mais importantes e complexas estiveram, e estão, na sua razão. Por último, não deixa de ser desonesta a forma como muitos torcem o nariz a esta guerra com base no argumento de acharem despropositado e ridículo o anuncio da instituição de uma «democracia» em solo iraquiano. Alegam, para o efeito, que transposições deste calibre são perigosas e impossíveis, dada a idiossincrasia social e as diferenças culturais. A declaração é definitiva: a tentativa de criação de um modelo politico-social de inspiração ocidental, num país sem pingo de tradição liberal, é absurda. E, finalmente, que a mudança, a fazer-se (claro: “a fazer-se”), deveria partir de «dentro», levada a cabo de maneira gradual, lenta e «natural», nunca por «imposição» exterior. Isto não só é desonesto como revela ingenuidade e preconceito. Por um lado, o mundo está suficientemente perigoso para termos de esperar, contemplativamente, que certos países (e o Iraque albergava um dos piores e mais sanguinários ditadores do Sec. XX) continuem a revisitar a Idade Média. Por outro lado, não creio que o povo iraquiano e os seus potenciais e actuais representantes sejam particularmente estúpidos ou totalmente idiotas. Observá-los como um bando de «bárbaros» incapazes de evolução e de reorganização é sinal de arrogância e de comodismo retórico. Bem como de falta de conhecimento. Em boa parte do Curdistão, nas chamadas «zonas de exclusão aérea», sob controlo anglo-americano, foi possível, desde 1991, criar um sistema multi-partidário baseado em instituições que nos remetem para o sistema democrático as we know it. Foi desenvolvido um sistema de ensino que não perde tempo com propaganda religiosa e rácica, como acontece na generalidade dos países árabes da região. É bom não esquecer que existe liberdade de culto no Iraque e que o ethos religioso nunca foi suficientemente castrador, ao ponto de esmagar e neutralizar uma futura e desejável reorganização política (dos poucos pontos positivos do regime de Saddam). É óbvio que ninguém espera uma adaptação fidedigna de um modelo de organização política de tipo ocidental. Ninguém está à espera, nem sequer é essa a expectativa de quem está directamente envolvido no Iraque pós-guerra, de assistir a uma mimetização de sistemas e instituições, com a criação de Procuradorias Gerais de República, Tribunais de Contas, Bancos Centrais, etc. etc. Entre o sistema ditatorial e despótico de Saddam e o modelo liberal ocidental vai uma enorme distância, equivalente à que separa a qualidade literária de Mia Couto quando comparada com a do rato Mickey (absoluta vantagem para este último). Se assim é, existe um vasto leque de opções que poderão servir o povo iraquiano de uma forma como nunca o regime de Saddam o serviu, sem ser necessário entrar em histerismo quanto à perfeição e tipologia do sistema a implementar. Existia, contudo, uma condição sine qua non: a captura de Saddam. Essa já «cá» canta.

m
Matos, Helena
Imprescindível: lúcida, mordaz, livre. Uma articulista de eleição.

o
Obsessão (do ano 2003, 2004, ...)

Scarlett Johansson

p
Parlamento
Foi sujeito a um dos mais lamentáveis acontecimentos do ano: a recepção, em apoteose, de Paulo Pedroso. Parecia estarmos na presença do regresso de um preso político, injustamente detido nos calabouços de um forte. Aparentemente, a culpa nem sequer foi de Pedroso.

Pereira, José Pacheco
O mais notório dos bloggers. O campeão das page views. A nova aquisição da SIC, em 2003. Aliás, a única. O Sr. Lopes e o Sr. Carrilho acusam um pouco a síndrome VDD: Voz Do Dono. Certezas? Uma: com a presença de Pacheco Pereira, ficámos todos a ganhar.

PS – Partido Socialista Português
Annus Horribilis para o PS. Culpa de quem? Inteira e objectivamente dele próprio. O PS foi incapaz de lidar com um facto: a prisão preventiva de um político seu no activo. Enveredou pela dramatização: a tese da cabala, a ideia da crise do sistema de justiça e do Estado de Direito, a politização de um caso que pertenceria apenas ao domínio do privado. Inacreditavelmente, o PS parecia querer colocar-se no banco dos réus, como se fosse o partido que estivesse em causa. Pelo meio, falaram-se em «convicções profundas» e num «combate de uma vida». O PS não percebeu que 99,99% da população portuguesa não conhece, nem tem de conhecer, os fundamentos dessas “profundas convicções”. Não conhece pessoalmente Paulo Pedroso – pessoa certamente afável e simpática. 99,99% da população aguarda o desfecho do caso no local onde deve ter lugar: nos tribunais. Não nas cabeças dos lideres socialistas, no Largo do Rato ou na Assembleia da República. É isso que significa vivermos num Estado de Direito. Foi esse “extravasar” e foi essa “incapacidade em lidar com” que colocaram o PS numa situação difícil, após sucessivos tiros no pé, carapuças enfiadas despropositada e desnecessariamente, e a revelação de uma falta de sentido de Estado gritante.
Em perspectiva, o PS parece nunca ter-se refeito da hecatombe da noite das eleições autárquicas, seguida de um simples e normal facto em democracia: os portugueses escolheram outro partido para governar. O PS tem de perceber que o actual governo está a cumprir um mandato de quatro anos e que de pouco servem essas insinuações demagógicas e desesperadas do «neo-fascismo», «neo-liberalismo» e «neo-conservadorismo». Não passam de slogans gratuitos, próprias de outra esquerda, da qual o PS parece não querer descolar-se.

r
Rodrigues, Ferro
Num ano terrível (v. PS), Ferro Rodrigues acertou uma única vez quando afirmou que o PS do «contenente» "nada tinha que ver com o PS Açores" - quando instigado a comentar o caso de pedofilia nas ilhas. Pois não: lá, o PS Açores não entrou em histeria, não lançou a tese da cabala, o seu líder foi discreto e o caso morreu ao fim de três dias.
v. PS

Rucker, Ursula
Outro grande disco: Silver or Lead.

s
Soares, Mário
Mário Soares voltou a pavonear a sua cristalina visão do mundo. Voltou a afirmar que ”o mal do mundo advém da exploração universal” (sic); que nós, europeus, vamos ser ”escravos do império” (sic); que “o mundo está pior hoje do que no tempo do colapso do regime soviético” (sic); e que “a natureza do terrorismo global [da Al Qaeda] é igual “à natureza da administração norte-americana” porque, muita atenção, “Bush fala em Deus, no bem e no mal”. Pelo meio, Mário Soares confessou que, para ele, os EUA já não são uma democracia: a administração Bush transformou os EUA numa ditadura, que se prepara para tomar o mundo. O Congresso, o Supremo Tribunal, o Senado, os tribunais, o “rule of law”, a constituição americana, o povo americano? O facto de ter sido no seio da sua querida e abstracta «Europa», e não nos EUA, que nasceram os totalitarismos ocidentais no Sec. XX (o fascismo, o nazismo e o comunismo)? Os interesses obscuros de franceses, alemães e russos um pouco por todo o mundo (incluindo no Iraque)? Nada disso interessa. A História, as evidências e a realidade: peanuts. Alguém, em 2004, o poderá aconselhar a sossegar?

t
Tavares, Miguel Sousa
v. Anti-semitismo

Terrorismo
A cartilha voltou a ser repetida pelos do costume: o Sr. Bin Laden, al Qaeda e, em geral, os terroristas representam a voz dos excluídos, dos humilhados, dos «danados da fome». As causas do terrorismo da al Qaeda são claras: há décadas (séculos?) que o Ocidente colocou a nação islâmica a pão e água, sugando-lhe, ao mesmo tempo, os seus mais preciosos recursos (nomeadamente o pitróleo). A par disto, o Ocidente, e mais concretamente a nação Imperial, tem vindo a infligir duros golpes na auto-estima dos árabes e dos muçulmanos espalhados pelo mundo, razão mais do que suficiente para explicar o fundamentalismo islâmico.
Bin Laden pode ser a face de tudo, mas não é, certamente, a face da revolta dos milhões de muçulmanos que vivem, ainda hoje, num obscurantismo que lembra o pior da Idade Média. É sabido que, no seio das populações, quando estão reunidas as condições para falar sem receios, ou seja, livremente, existe mais simpatia pelo Ocidente e pelo grande Satã do que alguma vez os críticos dos EUA poderão imaginar. É altura de perceber que o Ocidente (latu sensu) não anda em cruzada por terras muçulmanas. Não anda a humilhar ninguém. O Ocidente não tem nenhuma contenda com o Islão. É a Ocidente que existe tolerância, multi-culturalismo e liberdade de culto. Convinha explicar que os maiores culpados pelo infortúnio dos povos do médio oriente continuarão a actuar num limbo de impunidade inadmissível, servido pela intelligentsia ocidental. Falo, obviamente, dos dirigentes e orquestradores políticos e religiosos. É a Arafat e à sua falta de visão de Estado e de oportunidade; são aos mullahs e aos ayatollas; são aos dirigentes políticos do médio-oriente mentalmente mais empedernidos e tirânicos; são a esses que se deveriam assacar responsabilidades. São estes os que adoram incendiar as populações contra terceiros; são estes que não defendem as suas populações com certos contratos estabelecidos com países ou grupos económicos a ocidente; são estes que sugam a riqueza do seu país para sustentar a sua pesada oligarquia; são estes que anestesiam a consciência crítica do seu povo face às suas responsabilidades e às suas políticas, através da criação de papões ocidentais. Em suma, são estes os inimigos dos povos que putativamente se sentem excluídos, menosprezados e a viver em péssimas condições materiais e humanas. Não é o Ocidente ou o grande Satã.

u
União Europeia
Adensam-se nuvens negras e nem o mago d’Estang consegue sossegar a ralé. Seria bom que, na UE, alguém carregasse no pedal do travão ou aliviasse o do acelerador. Irmãos: vamos com calma.

v
Valente, Vasco Pulido
O grande ausente. A maior das saudades. Get well, Vasco. A.S.A.P.

w
White Stripes, The
Alguém devia condecorar o Sr. e a Sra. White pelo serviço que têm vindo a prestar a um género cuja morte já foi anunciada vezes sem conta: o rock. Ouça-se o tema de abertura do álbum Elephant (2003): Seven Nation Army é um clássico absoluto. Uma linha de baixo repetitiva, acompanhada ora solitariamente por uma percussão minimalista, ora por riffs provenientes de uma guitarra dilacerante. Letras simples, em denunciado clamor por instintos básicos e sentimentos à flor da pele. Se isto não é rock, o que será rock? Os Stripes estão aí para mandar às urtigas a crónica de uma morte anunciada, num estilo que mistura eficazmente influências como as de T-Rex, Stooges, Burt Bacharach ou Velvet Underground. Em 2003, os Stripes continuaram a fazer pelo rock aquilo que os Pixies haviam feito na década de 80. Ou aquilo que os Smiths fizeram pela pop na mesma década.

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