O MacGuffin

quinta-feira, maio 22, 2003

CURIOSIDADE

Algures entre 1976 e 1979, Vasco Pulido Valente escrevia o seguinte:

”UMA RESPOSTA A EDUARDO PRADO COELHO
No último número, com aquele rigor a que tão cedo nos habituou, o Eduardo Prado Coelho responde-me, sem me responder, para não me dar o gosto de me responder. Não escrevi a minha crónica do n.º 21 a pensar no Eduardo. Mas não me custa perceber porque enfiou a carapuça. O caso dele é, aliás, dos mais interessantes. Eu, por exemplo, nunca consegui decidir se o Eduardo escreve má prosa analítica ou má poesia confessional. Do arrebatamento lírico ao embrulhado comentário erudito, da dedicatória inflamada à citação sábia, passa por todos os registos em menos de meia página. A mim, isso levanta-me insuperáveis problemas de leitura. A imprecisão e a verborreia do Eduardo-crítico não constituiriam precisamente a economia e a eficácia do Eduardo-poeta? E vive-versa? Não me desentenderia eu com um deles por pura incapacidade de apreciar o outro? Durante anos, os escritos do Eduardo fizeram na minha cabeça o atribulado trajecto de um livro de Foucault, que andou por Inglaterra, para ser traduzido, das mãos dos poetas para a dos filósofos e das mãos dos filósofos para as dos poetas, porque os poetas sustentavam que aquilo era com certeza filosofia e os filósofos que era à evidência poesia.”


Isto foi escrito, como referi, entre 1976-79. Quem costuma ler o EPC do Sec. XXI (como é religiosamente o meu caso), chegará à conclusão que o mundo e as pessoas não assim tão mutáveis.

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