O MacGuffin

quinta-feira, abril 03, 2003

COMENTÁRIOS

De Lina Silva: ”O que esta raivosa anti-belicista condena às sucessivas mas em especial, e devido ao peso das circunstâncias, a esta administração americana é o facto de, sendo uma democracia que se ajusta à descrição de J. S. Mill, estar a agir precisamente da maneira contrária à que o discurso deste autor prevê. Da ditadura de Saddam não podemos esperar mais do que acções ditatoriais. À democracia americana temos de exigir acções democráticas. E confesso que me mete medo e apreensão pelo nosso futuro uma democracia começar a agir internacionalmente como se de uma ditadura se tratasse, ao mesmo tempo que exige ser vista e tratada como democrática,estatuto que perde pela sua actuação no exterior. Lá dentro, nos EUA, a administração continuar a agir democràticamente como é suposto numa democracia e eu gostaria que a comunidade internacional não se deixasse confundir, ofuscar e iludir por esse facto.

Cara Lina: se reparar, eu não disse que todos os que são contra a guerra apelidam preconceituosamente os outros de “belicistas”, “bushistas” ou “insensíveis”. Existe, e a Lina concordará comigo, quem tenha uma noção deturpada do que é o pluralismo. A frase de Mill remete-nos para a questão da liberdade de expressão, condenando tentativas mais ou menos explicitas de calar ou bestializar quem pensa de forma diferente. Sinceramente, depois de ler o que escreveu, não julgo ser esse o seu caso. A Lina sabe discutir, de forma cordial e fundamentada, a questão da guerra. Bem haja por isso.
Quanto aos EUA, é bom não esquecer que eles foram alvo de um ataque soez, sem precedentes, no dia 11 de Setembro de 2001 (que muitos, patética e ingenuamente, identificaram como o grito de revolta dos desfavorecidos do mundo). Para o bem e para o mal, o 11 de Setembro marcou indelevelmente a forma de olhar o mundo por parte dos responsáveis norte-americanos, tendo precipitado algumas decisões. Existe, na região do médio oriente, uma forte instabilidade política e social, servida pelo fanatismo religioso e por um ódio doentio ao mundo Ocidental – cuja explicação pode e deve ser encontrada não nas acções do Ocidente, mas sim no retrocesso civilizacional ou na estagnação de uma outrora grande civilização, fruto da inacção, incompetência e estupidez de muitos dos seus lideres (que a propaganda de Estado/religiosa tentou sonegar, apontando o dedo para o exterior). No Iraque, Saddam Hussein foi, por exemplo, um dos mais brutais ditadores do Sec. XX, responsável por dois conflitos armados, pela aniquilação de milhares de iraquianos e pelo atraso económico do seu pais a um nível vergonhoso, para um país riquíssimo em reservas petrolíferas.
Perante este cenário, os EUA consideraram que, ficar indiferente, numa posição de contemplação, seria, num futuro próximo, bem mais perigoso do que agir. Os responsáveis americanos e ingleses olharam para Saddam e julgaram ser bastante provável, dada a conjuntura internacional e a história do regime iraquiano, a ideia de Saddam voltar a pôr em prática os seus propósitos megalómanos e, da mesma forma que já apoiava o terrorismo dos grupos radicais palestinianos, poder vir a servir grupos terroristas «globais» (como é o caso da Al Qaeda), com armas de destruição maciça. Decidiram não confiar mais na política de embargo imposta ao Iraque (a qual prejudicava essencialmente as populações civis, mas não o regime), nem no trabalho dos inspectores da ONU (há doze anos que Saddam os vinha ludibriando, violando materialmente várias resoluções da ONU). Optaram por agir, não no sentido da cruzada utópica, mas com objectivos práticos de natureza geo-política, aliados a uma questão moral. Confesso-lhe uma convicção e um ‘wishful thinking’: esta intervenção pode dar origem a outras «reformas», incluindo a resolução do problema israelo-palestiniano. Mas sobre a guerra em curso leia os meu próximos ‘posts’. Obrigado pelo seu comentário.

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