O MacGuffin

quarta-feira, março 26, 2003

A TRADIÇÃO JÁ NÃO É O QUE ERA

A minha amiga Zazie dizia-me, ontem, que, neste assunto da guerra, lhe parecia que a esquerda e a direita andavam trocadas. A minha querida amiga tem alguma razão. Bem vistas as coisas, no caso deste conflito, tenho visto mais idealismo (libertar um povo, fundar uma democracia), optimismo (ser o inicio do fim do doentio 'satus quo' do médio oriente) e moralismo (depor um ditador que mata o seu povo) do lado da direita que da esquerda. A boa da esquerda passou a ser cínica, pragmática, moralmente contorcionista e medrosa (epítetos que habitualmente lançava sobre a direita). A esquerda acha que o Iraque tem um problema «interno» (porque Saddam não é uma ameça para ninguém), logo não elegível para efeitos de intervenção externa. Todos reconhecem (o 'todos' é sinal de benevolência) que, às mãos de Saddam, morreram centenas de milhares de pessoas, nos últimos 30 anos. O homem é, de facto, um perigo. Mas a esquerda, que começa sempre as frases dizendo que Saddam é um ditador (por descargo de consciência, não se vá dar o caso de mais um «sindrome Bernardiniano»), logo se descarta do seu «grande coração» para dizer que este é um assunto que não obriga a nenhum tipo de ingerência pró-activa. Devemos, isso sim, observar à distância, no remanso do nosso sofá, como uns tipos envergando um bóne azul com a inscrição “ONU”, brincam às escondidas com Saddam por mais, digamos, 12 anos. Até lá? Vão desaparecendo uns milhares de inocentes mas, hélas, são «danos colaterais». Curioso, não é? A esquerda não consegue ultrapassar o estigma do «pitrólio». Não consegue pôr, para trás das costas, o eventual móbil do dito nem o seu preconceito cultural e político em relação aos EUA.

Muito «pitrólio» vai ter de ser vendido para tapar o buraco orçamental do esforço de guerra, não acham?

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