O MacGuffin

quinta-feira, março 20, 2003

PONTAPÉ DE SAÍDA

Aviso à navegação: este é o 'post' de apresentação deste recém inaugurado blog. Link: www.contra-a-corrente.blogspot.com. Contacto (para comentários, sugestões, críticas, etc.): carlosccc@mail.telepac.pt. Tratarei de os colocar aqui, à medida da minha (in)disponibilidade.

Chamo-me MacGuffin. Nickname, ou alter-ego, de inspiração Hitchcokiana. Eles não o sabem (nem, aliás, me conhecem), mas foi graças ao blog A Coluna Infame (provavelmente, a minha principal referência no universo bloguiano) - do triunvirato Pedro Mexia, Pedro Lomba & João Pereira Coutinho - que resolvi aventurar-me nestas andanças. Como inflo-excluído assumido, é obra!

Para começar, e para efeitos de apresentação (confesso que tenho pouco jeito para «pontapés de saída»), tratemos já de abusar do name dropping. Vale mais fazê-lo agora, de uma vez por todas.

Se tivesse de escolher alguma fonte de inspiração para este espaço, escolheria... Nelson Rodrigues. Há anos que a qualidade literária e postura deste brasileiro ensombram (no bom sentido) os meus pensamentos. Para um conservador assumido, com uma costela liberal e outra ligeiramente anarquista (lá iremos, lá iremos...), o carácter desalinhado e saudavelmente «reaccionário» das suas posições, o seu apego incondicional à liberdade, a sua verve e humor têm constituído um nutriente precioso para o meu espirito, e um aconchego para a alma.

Nelson Rodrigues, para muitos o maior dramaturgo brasileiro de sempre, foi, para a época, um delicioso reaccionário – em contraponto relativamente à atitude disseminada do revolucionário de serviço. Conduziu um notável trabalho de decomposição do assombramento gratuito, servido por dogmas e iminências pardas, de inspiração esquerdista (by the way:sei que não sou de esquerda; de resto tenho algumas dificuldades em assumir-me como «de direita». Sobretudo em Portugal.). O seu olhar lúcido, incómodo e desassombrado da realidade, representou, e representa ainda hoje, uma verdadeira lição sobre o que significa pensar livremente, pela própria cabeça, contra certos modelos de alienação. Combatia, em particular, aquilo a que hoje denominamos de “politicamente correcto”, bem como o culto do unanimismo, da falsa e gratuita solidariedade, das bebedeiras colectivas e das “vagas de fundo”. A tentativa de imposição de modelos supostamente perfeitos de sociedade, por parte da esquerda, repugnava-o. Amante da diversidade e da liberdade, para ele, o indivíduo – o ser humano – estava acima de tudo. Qualquer tentativa para torná-lo em mais um parafuso de uma engrenagem superior revoltava-o.

Geniais e hilariantes foram, também, as suas posições relativamente à onda do “amor livre” e daquilo a que ele chamaria de “culto da imaturidade”: a glorificação do pior sentido da palavra «jovem».

Se Nelson fosse vivo, estaria hoje aí, na frente de combate contra a «esquerdite» aguda e a «estalinização» sub-reptícia da sociedade. Contra a palavrosa e cega obsessão, que a esquerda teima em repetir ciclicamente, em torno das mesmas falsas aparências, dos mesmo dogmas, da mesma forma simplista e maniqueista de olhar o mundo. Contra o seu moralismo de pacotilha e a arrogância de tentar empurrar, por decreto, os seus modelos e as suas certezas superiores, para cima de nós.

É um bocadinho desse espírito que pretendo trazer para aqui. Farei deste espaço um espaço de comentário e desabafo livre, sem conotações politiqueiras ou pretensões de qualquer ordem. Não pretendo mudar consciências ou moldar opiniões. Não quero que concordem comigo, ou lançar bases para «capelinhas». Move-me o prazer de discutir pontos de vista. Educada e cortesmente.

Quanto aos vossos comentários, tratarei de os colocar aqui, à medida da minha (in)disponibilidade.

Para terminar esta apresentação, ou este caótico e provisório manifesto, e para esgotar de vez o estigma do name dropping, gostaria de colocar no ar o nome daqueles que, até hoje, mais me influenciaram. “Diz-me de quem gostas, dir-te-ei quem és”. A ordem é arbitrária.

Política, Filosofia, História: Edmund Burke, Alexis de Tocqueville, Michael Oakeshott, Isaiah Berlin, F. A. Hayek, Raymond Aron, Paul Johnson, A. J. P. Taylor

Jornalismo/Opinião: Nelson Rodrigues, Auberon Waugh, H. L. Mencken, George Orwell, Clive James, Vasco Pulido Valente, Miguel Esteves Cardoso, Martin Amis, Christopher Hitchens, Maria Filomena Mónica, António Barreto, Pacheco Pereira, Theodore Dalrymple

Cinema: Otto Preminger, Billy Wilder, Fritz Lang, Alfred Hitchcock, Nicholas Ray, John Huston, Martin Scorcese, Woody Allen, Ingmar Bergman, Frederico Fellini, Carl Dreyer, John Ford, Murnau, Jean Renoir, Michael Powell/Emeric Pressburger, Francis Ford Coppola, Krzysztof Kieslowski, Elia Kazan, entre muitos outros. Por razões estéticas, cumpre-me referir Monica Vitti, Juliet Binoche, Isabelle Hupert, Harriet Andersson, Elizabeth Shue, Nastassja Kinski, Lauren Bacall e Grace Kelly

Música: mostly jazz.

Literatura: Anton Tchekhov, Fiodor Dostoievski, Marcel Proust, Gustave Flaubert, Oscar Wilde, Edgar Allen Poe, William Shakespeare, Graham Greene, W. B. Yeats, Vladimir Nabokov, Walt Whitman, Philip Larkin, Charles Dickens, Eça de Queiroz, Cesário Verde, E. E. Cummings, Raymond Carver, Raymond Chandler, Franz Kafka, T. S. Eliot e Samuel Beckett. (já pareço o Neil Hannon na faixa "The Booklovers"...)

Feitas as apresentações, agradeço a vossa atenção e participação.

Tema a abordar brevemente: Liberalismo vs Conservadorismo.

PS: este texto foi escrito ao som do álbum “Nénette et Boni-OST”, dos Tindersticks. Os meus agradecimentos.

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